Folha de S. Paulo


Um ano depois, Olimpíada do Rio continua polêmica

Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress
Bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016, no estádio do Maracanã, na noite deste domingo (21)
Bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016

A cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, na noite de 5 de agosto de 2016, no Maracanã, arrasou. Foi um espetáculo criativo e bem preparado que superou costumeiras falhas pontuais em eventos de tal porte.

Elogios vieram de todas as partes, pelas mídias caseira e do exterior. Depois, dia após dia e até o apagamento da tocha no encerramento, os Jogos tiveram momentos de muita emoção, disputas acirradas, eloquentes comemorações de vitórias e lamentos e choros por derrotas.

Tudo transcorreu em paz e com certo controle na segurança pública, embora antes houvesse um clima de temor sobre essa e outras questões. A Olimpíada tinha sido aguardada com muita expectativa, período em que inúmeros obstáculos tiveram de ser superados para que o grande evento esportivo não se transformasse em retumbante fracasso antes mesmo da sua abertura.

Mas o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, superou o desafio e semanas depois repetiu a dose na Paraolimpíada. Além disso, a cidade ganhou obras de infraestrutura, antes impensáveis a curto prazo.

Acontece que festas terminam. Aí, o cenário costuma mudar. Reza o ditado que depois da tempestade vem a bonança. A Olimpíada, no entanto, mostra que seu gigantismo vai além, subverte esse raciocínio e deixa no ar uma interrogação: E depois da calmaria, a tempestade volta?

No caso do Rio, na verdade, a tempestade nunca foi embora. Apenas acabou abafada pelas atrações dos Jogos Olímpicos e dos Paraolímpicos. Superada a fase esportiva, a fogueira voltou a arder, só que bem mais forte do que antes.

Políticos acabaram no xilindró por envolvimento em falcatruas, a queda econômica nacional se agravou, e mais ainda a do Rio, onde a crise social ocupou espaços, acompanhando o esvaziamento dos cofres públicos. A violência cresceu assustadoramente, a saúde piorou ainda mais, o pagamento do funcionalismo público sofreu atrasos e aumentou o desemprego.

Nesse quadro caótico, as promessas de legado dos Jogos começaram a ruir. Até a manutenção e o funcionamento do Parque Olímpico estão sob risco por falta de recursos.

O Ministério do Esporte assumiu responsabilidades nessa questão, levando em conta a precária situação financeira do Estado e da Prefeitura do Rio. Entretanto, é difícil entender como o governo federal entra nessa enrascada se também seus recursos estão limitados.

Ainda não há um documento definitivo sobre o custo final dos Jogos. A estimativa é de cerca de R$ 42 bilhões. A APO (Autoridade Pública Olímpica) encerrou suas atividades em março sem entregar os dados, uma de suas atribuições. O órgão controlaria a matriz de responsabilidades, o Plano de Políticas Públicas (com dados de legado) e o orçamento do comitê organizador Rio-2016.

Em substituição à APO, o presidente Michel Temer criou a AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico), que assume a responsabilidade pelo projeto relacionado ao seu título. Obras de infraestrutura para a Olimpíada são alvos da Lava Jato, bem como o ex-governador Sérgio Cabral, preso sob acusação de recebimento de propina.

Comandado por Carlos Arthur Nuzman, que também é presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), o comitê organizador dos Jogos tenta obter recursos para cobrir suas dívidas de mais de R$ 110 milhões.

Está difícil. O COI (Comitê Olímpico Internacional) foi procurado mas não quis discutir o assunto no momento. A falta de transparência foi uma marca nos preparativos para o evento.

Não bastassem todos os entraves com a crise econômica que assola o país, os esportes olímpicos e os atletas brasileiros passaram a enfrentar dificuldades, especialmente pela fuga de patrocínios públicos e privados. Prisões de cartolas por suspeita de corrupção e falhas administrativas gritantes nas confederações esportivas também contribuíram nessa queda pós-Olimpíada.

Nuzman chegou a declarar em março último que o Brasil voltou ao que era antes de Sydney-2000. Até aquela data havia menos patrocínio do que a partir de 2002, quando o setor foi beneficiado pela organização de grandes eventos (Pan-2007 e Olimpíada-2016).

É bom lembrar que, no mesmo período, na área esportiva ainda teve a Copa do Mundo de futebol. Valeram a pena esses grandes investimentos? As opiniões divergem. Mas fica claro que a quantidade de carga foi demais para o burro, que agora manca.


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