A cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, na noite de 5 de agosto de 2016, no Maracanã, arrasou. Foi um espetáculo criativo e bem preparado que superou costumeiras falhas pontuais em eventos de tal porte.
Elogios vieram de todas as partes, pelas mídias caseira e do exterior. Depois, dia após dia e até o apagamento da tocha no encerramento, os Jogos tiveram momentos de muita emoção, disputas acirradas, eloquentes comemorações de vitórias e lamentos e choros por derrotas.
Tudo transcorreu em paz e com certo controle na segurança pública, embora antes houvesse um clima de temor sobre essa e outras questões. A Olimpíada tinha sido aguardada com muita expectativa, período em que inúmeros obstáculos tiveram de ser superados para que o grande evento esportivo não se transformasse em retumbante fracasso antes mesmo da sua abertura.
Mas o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, superou o desafio e semanas depois repetiu a dose na Paraolimpíada. Além disso, a cidade ganhou obras de infraestrutura, antes impensáveis a curto prazo.
Acontece que festas terminam. Aí, o cenário costuma mudar. Reza o ditado que depois da tempestade vem a bonança. A Olimpíada, no entanto, mostra que seu gigantismo vai além, subverte esse raciocínio e deixa no ar uma interrogação: E depois da calmaria, a tempestade volta?
No caso do Rio, na verdade, a tempestade nunca foi embora. Apenas acabou abafada pelas atrações dos Jogos Olímpicos e dos Paraolímpicos. Superada a fase esportiva, a fogueira voltou a arder, só que bem mais forte do que antes.
Políticos acabaram no xilindró por envolvimento em falcatruas, a queda econômica nacional se agravou, e mais ainda a do Rio, onde a crise social ocupou espaços, acompanhando o esvaziamento dos cofres públicos. A violência cresceu assustadoramente, a saúde piorou ainda mais, o pagamento do funcionalismo público sofreu atrasos e aumentou o desemprego.
Nesse quadro caótico, as promessas de legado dos Jogos começaram a ruir. Até a manutenção e o funcionamento do Parque Olímpico estão sob risco por falta de recursos.
O Ministério do Esporte assumiu responsabilidades nessa questão, levando em conta a precária situação financeira do Estado e da Prefeitura do Rio. Entretanto, é difícil entender como o governo federal entra nessa enrascada se também seus recursos estão limitados.
Ainda não há um documento definitivo sobre o custo final dos Jogos. A estimativa é de cerca de R$ 42 bilhões. A APO (Autoridade Pública Olímpica) encerrou suas atividades em março sem entregar os dados, uma de suas atribuições. O órgão controlaria a matriz de responsabilidades, o Plano de Políticas Públicas (com dados de legado) e o orçamento do comitê organizador Rio-2016.
Em substituição à APO, o presidente Michel Temer criou a AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico), que assume a responsabilidade pelo projeto relacionado ao seu título. Obras de infraestrutura para a Olimpíada são alvos da Lava Jato, bem como o ex-governador Sérgio Cabral, preso sob acusação de recebimento de propina.
Comandado por Carlos Arthur Nuzman, que também é presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), o comitê organizador dos Jogos tenta obter recursos para cobrir suas dívidas de mais de R$ 110 milhões.
Está difícil. O COI (Comitê Olímpico Internacional) foi procurado mas não quis discutir o assunto no momento. A falta de transparência foi uma marca nos preparativos para o evento.
Não bastassem todos os entraves com a crise econômica que assola o país, os esportes olímpicos e os atletas brasileiros passaram a enfrentar dificuldades, especialmente pela fuga de patrocínios públicos e privados. Prisões de cartolas por suspeita de corrupção e falhas administrativas gritantes nas confederações esportivas também contribuíram nessa queda pós-Olimpíada.
Nuzman chegou a declarar em março último que o Brasil voltou ao que era antes de Sydney-2000. Até aquela data havia menos patrocínio do que a partir de 2002, quando o setor foi beneficiado pela organização de grandes eventos (Pan-2007 e Olimpíada-2016).
É bom lembrar que, no mesmo período, na área esportiva ainda teve a Copa do Mundo de futebol. Valeram a pena esses grandes investimentos? As opiniões divergem. Mas fica claro que a quantidade de carga foi demais para o burro, que agora manca.