Folha de S. Paulo


Atletas brasileiros ignoram a crise no início da alta temporada esportiva

Martin Bureau/AFP
Time brasileiro de revezamento 4 x 100 m comemora medalha de prata no Mundial de Budapeste
Time brasileiro de revezamento 4 x 100 m comemora medalha de prata no Mundial de Budapeste

Embora a alta temporada dos esportes olímpicos de verão esteja apenas no início, os esportistas brasileiros comemoraram alguns feitos de monta. A dúvida é: essa onda vai ou não se manter ativa pelos próximos meses nas disputas dos Mundiais e demais eventos de relevo em 2017?

A natação, que zerou no quadro de medalhas da Olimpíada do Rio há um ano –apenas Poliana Okimoto foi ao pódio para receber o bronze dos 10 km em águas abertas–, festeja conquistas importantes no Mundial de esportes aquáticos, que continua em andamento, em Budapeste, na Hungria. No tênis, em parceria com o polonês Lukasz Kubot, o brasileiro Marcelo Melo comemorou a conquista do título de duplas na grama, no tradicional Grand Slam de Wimbledon.

No vôlei, a seleção masculina, ouro no Rio, iniciou uma nova fase com Renan Dal Zotto no lugar de Bernardinho no comando técnico e uma prata na Liga Mundial. A equipe feminina, por sua vez, buscando a renovação, garantiu sua vaga para a fase final do Grand Prix, em Nanjing, na China. Sinal de que está no bom caminho.

São todos resultados de destaque que servem de incentivo para os atletas brasileiros em geral depois do banho de água fria no pós-Olimpíada do Rio, quando apenas notícias desagradáveis despontaram no horizonte.

Fuga ou redução de patrocínios em praticamente todas as modalidades, prisão de cartolas por suspeita de corrupção (natação) e suspensão de eventos internacionais (basquete, já reabilitado) e outros tipos de desarranjos em confederações esportivas nacionais.

Até mesmo o anunciado legado olímpico deixou de ser um sonho e virou pesadelo. Qual é a situação de uso e manutenção do Parque Olímpico? O que resta para respaldo do esporte nacional? São questionamentos sem respostas concretas, objetivas.

A natação brasileira frustrou os torcedores na Olimpíada do Rio, embora tenha chegado a oito finais, dez semifinais e quebrado quatro recordes sul-americanos e um brasileiro.

No Mundial de Budapeste, o time brasileiro masculino do revezamento 4 x 100 m, nado livre –formado por Cesar Cielo, Bruno Fratus, Marcelo Chierighini e Gabriel Santos–, conquistou a medalha de prata, superado apenas pelo conjunto dos Estados Unidos.

Outra prata ficou com Nicholas Santos, nos 50 m, borboleta, somente quatro centésimos atrás do britânico Benjamin Proud, o campeão.

Nas águas abertas, a brasileira Ana Marcela Cunha obteve um feito extraordinário, o de arrebatar seu terceiro ouro na prova dos 25 km, repetindo as conquistas de Xangai-2011 e Kazan-2015. Ela ganhou também bronze nos 5 km e 10 km.

Ano passado, Marcela se submeteu a tratamento de uma doença autoimune, que resultou na retirada do baço em outubro. Ela é a representante do Brasil com maior número (nove) de medalhas em Mundiais.

No mundo dos esportes, nada parece ajustado para um Brasil que, em curto espaço de tempo (2014-2016), teve a ousadia questionável de bancar dois eventos internacionais de grande porte como a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos.

Agora, a culpa por todos os tropeços cai na conta da crise econômica que assola o país. Os atletas seguem em busca da superação. Será que esse esforço basta?

Por isso, um outro ponto de interrogação ajuda a embaçar o quadro esportivo brasileiro de alto rendimento: como a delegação nacional chegará aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020? Se não arrasou em casa, fora deverá ser mais difícil ainda.


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