Folha de S. Paulo


Mesmo voando baixo, Braz será o astro do Brasil no Mundial

Campeão olímpico no Rio, ano passado, o brasileiro Thiago Braz enfrenta uma etapa delicada em sua carreira no salto com vara. Tem tropeçado em eventos internacionais. Relaxo, decadência?

Não, nada disso. A fase trôpega estava prevista. Faz parte dos planos voltados para o maior desafio na vida de um atleta, o de cravar o recorde mundial em sua especialidade.

Braz ganhou a medalha de ouro na Olimpíada com um salto de 6,03 m, novo recorde do evento e pessoal. Agora, busca uma preparação que possa respaldá-lo para o maior salto do mundo, que ele e o seu técnico ucraniano Vitaly Petrov esperam que chegue a 6,20 m. O recorde atual, do francês Renaud Lavillenie, registra 6,16 m.

Como ficou claro em reportagem de Paulo Roberto Conde nesta Folha, em maio último, Braz vai trabalhar a massa muscular na temporada em curso. Deve ganhar força e perder um pouco da velocidade habitual.

Esse desequilíbrio dificulta a obtenção de resultados expressivos. Eles até podem acontecer nesta fase, mas serão excepcionais, encontrando explicações apenas no potencial e na natureza do atleta.

Mais adiante, principalmente em 2019 e na Olimpíada de Tóquio-2020, espera-se que a preparação alcance o ponto ideal, com força, agilidade, velocidade e técnica. Tudo isso coincidindo com um estado psicológico adequado.

Aí a preocupação será a de saltar na busca por melhores resultados. Antes, porém, Braz terá de se adaptar a uma nova vara, maior do que a atual, para alcançar alturas mais elevadas. A evolução das marcas do brasileiro partiu de 5,10 m em 2010 e, numa linha crescente, exceto em 2014, chegou aos 6,03 m da medalha de ouro nos Jogos do Rio.

Braz iniciou o ano em curso razoavelmente competitivo nos eventos em recinto fechado (indoor), indo ao pódio nas primeiras provas. Na França, ganhou o torneio de Rouen, com 5,86 m, e foi bronze em Clemont-Ferrand, com 5,71 m. Na Alemanha, ficou com a prata em Berlim, com 5,70 m.

Com a abertura da temporada a céu aberto (outdoor), ele saltou 5,60 m competindo na etapa da Diamond League, em Xangai, China, sua melhor marca neste ano. No último domingo (16), em Rabat, no Marrocos, fracassou em três tentativas de 5,40 m, em prova vencida pelo polonês Pavel Wokciechowski, com 5,93 m.

O mais destacado resultado de 2017 é o do norte-americano Sam Kendricks, com 6 m cravados, alcançados em 24 de junho, em Sacramento, nos EUA.

Além das competições em diferentes países, Braz treina sob as orientações de Vitaly em Formia, na Itália. O técnico tem prestígio na especialidade e já dirigiu recordistas mundiais como Sergei Bubka e Ielena Isinbayeva, ambos com carreiras encerradas.

Braz sabe que dificilmente encaixará um salto expressivo nesta temporada. Mas, aos 23 anos e no auge da carreira, é complicado para um campeão não pensar em pódio nas competições que participa.

Contra toda a lógica do plano de trabalho em que está enquadrado e levando-se em conta os fracos resultados dos últimos tempos, mesmo assim a ele não vai faltar torcida no Mundial de atletismo, a partir de 4 de agosto, em Londres. Braz é a estrela da delegação nacional.


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