Folha de S. Paulo


Depois do escândalo, Rússia tenta restaurar sistema antidoping

O movimento olímpico internacional vai, aos poucos, respirando mais aliviado depois do escândalo de doping protagonizado pela Rússia e que culminou com o veto à participação de parte dos atletas daquele país na Olimpíada do Rio, em 2016, mesmo que muitos deles nunca tivessem sido apanhados em testes antidoping.

Um novo passo rumo à superação da crise foi dado na semana passada, quando a Wada (Agência Mundial Antidoping) finalmente liberou a Rusada, agência de controle antidoping da Rússia, para retomar atividades, como planejamento e testes, sob supervisão de especialistas internacionais e da Ukad, agência do setor no Reino Unido.

As falcatruas da Rússia, com participação estatal, envolveram mais de mil atletas, entre 2011 e 2015, em um esquema de consumo de substâncias ilegais para aumento de rendimento em competições esportivas.

A Rusada agora trabalha em busca da sua restauração completa e do cumprimento do Código Mundial Antidoping. Além disso, prepara-se para a próxima auditoria da Wada, programada de forma provisória para setembro próximo.

Enquanto isso, a entidade vai aguardar orientações para a inscrição de atletas russos em eventos internacionais. Quando o impasse ameaçou chegar à Olimpíada, o COI (Comitê Olímpico Internacional) aceitou que a sentença definitiva ficasse a cargo da federação internacional de cada modalidade esportiva.

A de atletismo, por exemplo, nos Jogos do Rio, adotou a proibição. No Mundial da modalidade, mês que vem na Inglaterra, é praticamente certo que alguns atletas russos competirão por um bandeira neutra.

Em reportagem de Fábio Aleixo nesta Folha, no último domingo (2), a bicampeã olímpica de salto com vara, Ielena Isinbaieva, afirmou que o doping não é mais problema na Rússia e que o sistema lá implantado atualmente é um dos melhores e mais transparentes do planeta. Ela falou com a autoridade de ter ocupado até 31 de maio último a chefia do conselho de supervisão da Rusada.

O novo empossado no cargo é Alexander Ivlev, profissional da área de finanças, que assim atende a uma das exigências da Wada, de ter alguém independente na função. Isinbaieva, que anunciou seu retiro das pistas no ano passado, durante os Jogos no Rio, tinha sido indicada ao posto pelo Comitê Olímpico Russo.

Enquanto as punições à Rússia por causa dos desmandos no antidoping não forem levantadas pela Wada, competições internacionais naquele país terão testes analisados em laboratório da Suíça, repetindo processo recente da Copa das Confederações. É o caso da Copa do Mundo de futebol, ano que vem.

Apesar desse movimento de reaproximação da Wada em relação aos russos, há situações aparentemente sem volta. Uma delas é a do médico Sergei Portugalov, que há três meses levou um gancho perpétuo da CAS (Corte Arbitral do Esporte) por posse, tráfico e administração de drogas proibidas a atletas na Rússia.

O doping tem enorme poder de atração em que o esportista cai, raras vezes inocentemente, sonhando com performance extraordinária, além da sua natureza, aperfeiçoada por treinamentos. Na Rússia, o esquema extrapolou barreiras, com respaldo do governo, mas acabou desmascarado. O tempo talvez apague as marcas que deixou. Talvez.


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