Folha de S. Paulo


Aos poucos, véu islâmico rompe barreiras no mundo do esporte

O uso do véu islâmico, que tanta polêmica tem provocado nos últimos tempos, aos poucos vai rompendo barreiras no mundo dos esportes.

A Fiba (Federação Internacional de Basquete) decidiu na semana passada, de maneira unânime, em encontro com representações de 139 países, permitir o uso do véu para cobrir a cabeça nas competições femininas da modalidade. O uso do véu é preconizado pela doutrina islâmica.

A medida passará a valer a partir de outubro. A Fiba estipulou algumas exigências, como a preocupação com a confecção da peça para minimizar riscos de lesões. Ela também não deve cobrir nenhuma parte do rosto, nem sequer de forma parcial.

Precisa ainda ser preta ou branca ou da mesma cor dominante que a do uniforme e igual para todas as jogadoras da equipe como a regra já adota para outros acessórios.

O debate sobre o véu islâmico no esporte ganhou impulso especialmente a partir da Olimpíada de Londres, quando a Arábia Saudita incluiu pela primeira vez mulheres em sua equipe. Foram apenas duas atletas, a judoca Wojdan Ali Seraj Abdulrahim Shaherkani e a meio-fundista Sarah Attar. Ambas não tiveram permissão para usar o hijab, um dos tipos do véu islâmico.

Apesar disso, a dupla representou um grande passo para as mulheres daquele país, onde sempre foi forte a pressão contra a participação feminina nos esportes. Naqueles Jogos, Brunei, Qatar e Arábia Saudita, todos de maioria islâmica, foram os últimos países a incluir mulheres em suas representações, quebrando uma tradição.

Na Olimpíada do Rio, ano passado, o véu colocou outra delegação de país islâmico, a do Egito, no noticiário. Aconteceu no vôlei de praia, que permite o véu. A dupla de mulheres muçulmanas, a primeira do Egito na especialidade, chamou a atenção: Doaa Elgobashy jogou de hijab e de calça e Nada Meawad, sem o lenço na cabeça e de calça. O detalhe é que biquíni costuma ser o uniforme das moças na modalidade.

O véu islâmico abre espaço para a sua inclusão mais abrangente nos esportes. Porém, basta uma corrida de olhos na internet para se deparar com posições conflitantes sobre ele na sociedade em geral.

Seria um símbolo religioso, uma tradição cultural ou instrumento de discriminação da mulher? Há forte corrente de opinião que aponta o uso do véu como instrumento limitador para desenvolvimento pessoal e profissional das usuárias.

A Justiça europeia respaldou recentemente a proibição do uso do véu islâmico durante o horário de expediente em demanda relacionada à demissão de uma recepcionista na Bélgica. O tribunal considerou que não ocorreu discriminação por motivos religiosos ou de convicções porque existia um regulamento interno proibindo trabalhadores de usar qualquer tipo de símbolo.

Entretanto, a Justiça europeia deixa a última palavra aos juízes nacionais, que deverão avaliar sobre a proibição da indumentária em cada caso. Pouco tempo antes da demanda belga, um tribunal de Palma de Mallorca autorizou o uso do véu por uma funcionária de empresa aérea.

Michelle Obama foi criticada nas redes sociais em 2015, por não usar véu cobrindo a cabeça quando, acompanhando o marido, Barack Obama, visitou a Arábia Saudita. O casal havia ido prestar condolências à família real pela morte do rei Abdullah.

Questões envolvendo segurança, especialmente nestes tempos de atentados terroristas em escala, também instigam debates. Há quem defenda a ideia de que hijabs dificultam a identificação de terroristas.

Motivos não faltam para alimentar um quadro de diferentes visões. Há outros olhares para a questão do véu islâmico, como os dos fabricantes de vestimentas esportivas. Um deles acaba de anunciar a criação de um hijab especial, feito com material leve e respirável e especialmente para quem quer praticar atividades esportivas.

O uso do véu islâmico enfrenta restrições em espaços públicos de vários países, como Áustria, França e Bélgica, entre outros, mas ganha terreno nos esportes. Apesar das contradições do tema, decisões como a da Fiba reforçam política de inclusão da mulher nos esportes e na Olimpíada em busca da igualdade na participação de gêneros.


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