Folha de S. Paulo


Em nova eleição, Nuzman pode acumular outra presidência

A cartolagem das Américas e do Caribe vive nestes dias a experiência de escolher o seu novo dirigente máximo, o presidente da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), entidade que coordena o esporte olímpico em toda a região.

Há quatro décadas os dirigentes não se deparam com uma disputa acirrada como a atual. O cargo foi ocupado desde 1975 e até dois anos atrás pelo mexicano Mario Vasquez Raña, morto em 2015, quando a presidência da organização passou interinamente para o uruguaio Julio César Maglione.

O brasileiro Carlos Arthur Nuzman, 75, o chileno Neven Iván Ilic, 55, e o dominicano José Joaquin Puello, 76, são os postulantes. A eleição ocorre em Punta del Este, no Uruguai, nesta quarta-feira (26), onde os representantes de 41 comitês nacionais das Américas se reúnem em assembleia.

Os Jogos Pan-Americanos, disputados a cada quatro anos, são o principal produto da Odepa. A entidade foi reconhecida oficialmente pelo COI em 1948, tendo sido sua criação esboçada desde 1940, quando discutiu-se a organização do primeiro Pan, previsto para 1942 e que não aconteceu por causa da Segunda Guerra Mundial.

Os Jogos começaram em 1951, em Buenos Aires. Gozaram de grande prestígio durante bom tempo, coincidentemente no período marcado pela Guerra Fria, embate entre a então União Soviética e os Estados Unidos, ambos com apoio de aliados.

Nos últimos tempos, o Pan vem perdendo importância, sendo mais utilizado como etapa de avaliação dos preparativos dos atletas para a Olimpíada, sempre realizada no ano seguinte.

Nuzman aparece com força na disputa. É possível que receba os votos da maioria dos colegas sul-americanos, mais os do México e do Canadá.

Além disso, um gesto político do Comitê Olímpico Internacional é indício de provável respaldo à sua candidatura. O brasileiro acaba de ser indicado pela entidade para integrar a comissão de coordenação da Olimpíada de Tóquio-2020. O presidente do COI, o alemão Thomas Bach, está no Uruguai para acompanhar o pleito.

O chileno Ilic tem o apoio dos Estados Unidos e do Chile e busca votos nas demais áreas, especialmente na América do Sul.

A sede dos Jogos Pan-Americanos de 2023 entra nessa disputa, pois a chilena Santiago e a argentina Buenos Aires planejam promover o evento e estão em campanha, com desfecho previsto para setembro próximo. No momento, o voto da Argentina é um dos quais Nuzman contabiliza a seu favor.

O dominicano Puello, por sua vez, conta com aval principalmente dos países do Caribe, configurando uma clara divisão do colégio eleitoral. Entretanto, como a eleição envolve jogo de interesses e nunca descarta possível aliança entre candidaturas, o panorama fica sujeito a mudanças até o momento do início da votação.

Nuzman tenta ser o segundo brasileiro a dirigir a Odepa –em 1971, o major Sylvio de Magalhães Padilha ocupou o posto interinamente. Vale-se nesta campanha da vivência em seus cerca de 40 anos como dirigente esportivo, metade deles no Comitê Olímpico do Brasil, e da sua atuação como presidente do comitê organizador da Olimpíada do Rio.

Continua exercendo os dois postos, sendo que ainda enfrenta dificuldades para saldar dívidas relacionadas aos Jogos Olímpicos. No COB, estruturou e modernizou a entidade mas o esporte brasileiro quase nada avançou no quadro de medalhas da Olimpíada. Poucos dias atrás, o próprio Nuzman chegou a declarar que o esporte nacional corre o risco de regredir aos anos 1990 diante da crise econômica que o país atravessa.

Candidatos costumam pregar a intenção de modernização como meta, parece um quesito padrão de campanha. Nuzman pretende também manter a sede da Odepa na Cidade do México e vislumbra a possibilidade de abrir um escritório da organização em Miami.

Se eleito for, ele nada adiantou sobre seu futuro como dirigente do COB ou se vai acumular mais uma presidência.

Para os esportistas brasileiros, cheios de esperança por renovação no setor, essa é a grande expectativa.


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