Folha de S. Paulo


Após castigo, Sharapova está pronta para mostrar sua arte

Protagonista na onda antidoping que abalou a estrutura esportiva mundial nos últimos tempos e prestes a voltar às manchetes esportivas, a tenista russa Maria Sharapova chega aos 30 anos nesta quarta (19). A expectativa dela, no entanto, certamente nada tem a ver com a data festiva.

Há um outro motivo, bem mais emblemático: na quarta-feira da semana que vem (26) termina a suspensão aplicada a ela pela Federação Internacional de Tênis e, na condição de convidada, a tenista retorna oficialmente às quadras no torneio de Sttutgart, na Alemanha.

O afastamento de Sharapova das disputas do tênis mundial por 15 meses levantou polêmicas, com opiniões pró e contra neste momento da volta ao esporte. Atletas de renome no tênis manifestaram opiniões divergentes. Os patrocinadores se dividiram, alguns deixaram de apoiá-la.

Apesar disso, cresceu o número de seguidores da russa nas mídias sociais. O prestígio da atleta continuou em destaque. A campeã sempre manteve ao longo de sua carreira um espaço cativo na mídia, fruto do conceito de união do útil ao agradável, as suas qualidades como tenista e a beleza da sua imagem.

A ex-número 1 do mundo por 21 semanas e vencedora de cinco Grand Slams, que hoje está fora do ranking por causa da inatividade, vai reaparecer no circuito mundial na cidade alemã da qual saiu vencedora em 2012, 2013 e 2014.

Os pontos no ranking ela terá chance de reconquistar, torneio a torneio. Mas o período de ausência provocou perdas irreparáveis. A começar pela não participação na Olimpíada do Rio.

Também deixou de faturar com sua performance nas quadras. Até a parada forçada, ela tinha acumulado 35 títulos e mais de US$ 36 milhões em premiações, além de vultosas somas com contratos publicitários.

Como foi o teste positivo de doping? Aconteceu na onda de escândalos pelo uso de substâncias proibidas por atletas da Rússia e que chegou ao cúmulo com denúncias da intervenção estatal russa no acobertamento de testes positivos.

No caso de Sharapova, a droga apontada foi Meldonium, incluída na lista de proibições em 1º de janeiro de 2016. O flagrante ocorreu 26 dias depois, durante o Aberto da Austrália. Na sequência, em 7 de março, em uma entrevista coletiva, a própria atleta confessou o uso da droga, antecipando-se à divulgação oficial do flagrante.

Desde o primeiro momento, a tenista alegou que utilizava o Meldonium (consumido como aspirina por milhões de pessoas no Leste Europeu, segundo ela) havia mais de dez anos, quando o mesmo não era considerado ilícito no esporte. Argumentou ainda ter faltado uma comunicação mais contundente sobre a proibição do medicamento.

A pena inicial de dois anos de suspensão acabou reduzida em nove meses pela CAS (Corte Arbitral do Esporte), que aceitou recurso de Sharapova. O entendimento foi de que ela não teve intenção de se dopar, embora tenha falhado ao seguir usando a droga.

Max Eisenbund, empresário da Sharapova, anunciou em entrevistas que este poderia ser o último ano dela no tênis, mas já a vê jogando até na Olimpíada de Tóquio-2020, levando em conta a motivação da atleta.

Na verdade, Sharapova passa a ser uma incógnita na elaboração de prognósticos no tênis. A idade e o ano sem jogar, embora tenha procurado manter a forma, pesam. Tem ainda a pressão psicológica das opiniões que divergem sobre a sua volta após o uso de doping e se ela merece convites para entrar em torneios.

Sharapova pagou pelo malfeito, cumpriu a sentença imposta pelos mecanismos de Justiça dos meios esportivos. Ao que tudo indica, está limpa para mostrar a sua arte.


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