Folha de S. Paulo


Coreia do Sul sofre com dificuldades antes dos Jogos de Inverno

Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Inverno correm contra o tempo para deixar em condições o palco do evento, programado para fevereiro do ano que vem, em PyeongChang, na Coreia do Sul.

Curiosamente, uma peculiaridade da Olimpíada de Inverno é assegurar a disponibilidade de neve, produto imprescindível para as competições. A princípio, espera-se que o período de neve coincida com o dos Jogos, apesar de a sede ser definida sete anos antes.

Como não existe certeza dessa possibilidade, resta aos organizadores a opção de se precaver com um plano B, uma estrutura capaz de produzir neve artificial. Por isso, os sul-coreanos seguem os passos de Sochi, na Rússia, palco da mais recente Olimpíada de Inverno, em 2014.

Lá, os russos não só se prepararam para criar neve, como estocaram o produto do inverno do ano anterior. São medidas que representaram um custo adicional, porém necessário para fugir de vexame.

O governo da Rússia, no entanto, não se preocupou com gastos. Tanto que o evento olímpico de Sochi foi o mais caro da história. Estimativas registraram despesas de US$ 51 bilhões (cerca de R$ 159 bilhões) na organização dos Jogos, que motivaram críticas por desperdício de verbas, pois grande parte do total era de dinheiro público.

A extravagância russa, que o presidente Putin incentivou sem colocar obstáculos, superou a dos Jogos de Verão de Pequim-2008, que alcançou US$ 43 bilhões (R$ 134 bilhões). A Olimpíada do Rio ficou em torno de R$ 40 bilhões. PyeongChang calculou suas despesas em US$ 13 bi (R$ 40 bilhões), reduzindo recursos com a utilização de novas tecnologias. Mas na reta final, as estimativas costumam crescer.

Jogos de Inverno envolvem menos de 4.000 atletas e de 90 países. Os de Verão chegam a pelo menos 10 mil atletas e pouco mais de 200 delegações nacionais.

Apesar dessas diferenças, os Jogos de Inverno se superam no quesito grandes escândalos do esporte olímpico. Salt Lake City, nos EUA, ficou marcada pela vergonha da compra de votos, quando a cidade foi eleita para abrigar a competição de 2002. A malandragem pressionou o COI a uma reestruturação de sua organização e dos seus procedimentos.

Sochi, por sua vez, provocou constrangimento com o alto custo do evento e, posteriormente, causou indignação na comunidade esportiva mundial quando estourou a denúncia de doping, com participação estatal.

Resultados de testes antidoping teriam sido manipulados para encobrir o uso de substâncias ilegais por atletas do país anfitrião. Comprovou-se que a prática estava disseminada na Rússia, fato que continua sendo investigado e que causou a suspensão de vários atletas russos de eventos internacionais. Na Olimpíada do Rio, mais de 100 deles foram vetados e não puderam vir ao Brasil para competir.

Na Coreia do Sul, crises políticas ainda em andamento causaram muita preocupação em relação aos Jogos, mas esse obstáculo parece superado. Uma semelhança com o Rio foi o pedido de impeachment que culminou recentemente na destituição da presidente do país, Park Geun-Hye.

A reta final dos preparativos para uma Olimpíada envolvem muita expectativa e a aproximação do evento cria um clima de euforia na população anfitriã.

Em contrapartida, são corriqueiros questionamentos sobre os Jogos, principalmente acerca de custos, possíveis desvios de verbas e gastos extras, como com segurança e outras ações. Então, qual a vantagem de bancar tal evento?

Desde os Jogos de Seul-1988, apesar da fama de beligerante, a Coreia do Norte fez tentativas de promoções esportivas conjuntas com a do Sul, inclusive uma descartada divisão da promoção desta Olimpíada de Inverno.

A região de PyeongChang foi cenário de combates da Guerra da Coreia (1950-53), encerrada com um armistício pelas Coreias do Norte, apoiada pela China e pela antiga União Soviética, e do Sul e aliados como EUA e Reino Unido.

A Olimpíada de Inverno, certamente, pode representar um pequeno salto na relação das Coreias em busca da paz definitiva. Seria um legado olímpico difícil de contestar.


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