Folha de S. Paulo


Sob nova direção, basquete vai discutir suspensão na Fiba

Envolto pela maior crise de sua história, o basquete brasileiro tenta dar a volta por cima e recuperar posição entre os mais destacados do mundo na modalidade. Essa expectativa, em clima de poucas chances de êxito a curto prazo, desponta alicerçada num movimento de peças no comando da CBB (Confederação Brasileira de Basquete).

A entidade está sob nova direção, depois de oito anos da administração de Carlos Nunes, que deixou a organização atolada em dívidas (em torno de R$ 17 milhões) e com seleções e clubes nacionais suspensos de eventos internacionais desde novembro último, por desacertos com a Fiba (Federação Internacional de Basquete).

Guy Peixoto, 55, empresário do setor de logística e ex-jogador que chegou a integrar a seleção nacional de bola ao cesto, acaba de ser eleito para a presidência da CBB. É o novo comandante do basquete brasileiro. Ganhou o pleito no qual teve como oponente o presidente da Federação Paranaense, Amarildo Rosa.

Será que uma nova diretoria vai dar conta da complicada tarefa? Qualquer prognóstico sobre a missão é delicado, com enorme risco de fiasco.

Matheus Costa / Transparência
Guy Peixoto, que foi eleito presidente da CBB
Guy Peixoto, que foi eleito presidente da CBB

A CBB vem acumulando tropeços há pelo menos duas décadas. Envolveu-se em dificuldades econômicas, acumulou dívidas, vacilou em questões administrativas e de gerenciamento.

A seleção masculina, por exemplo, por longo tempo uma atração da delegação olímpica do Brasil, ficou fora de três Olimpíadas consecutivas –Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008–, voltou em Londres-2012 (5º lugar) e precisou de convites para o Mundial-2014 e para a Rio-2016 (caiu na fase de grupos), porque havia fracassado nas tentativas de classificação.

O primeiro passo da presidência recém-eleita será uma reunião com dirigentes da Fiba, inicialmente agendada para esta sexta (17), na Suíça, mas que acabou transferida para a próxima quarta (22), em Porto Rico, durante encontro da Fiba Américas. A intenção é levantar a suspensão, mesmo que a reversão possa ocorrer apenas a partir de maio, quando a cúpula da Fiba se reunirá para deliberar sobre assuntos diversos.

Guy Peixoto tem muito o que discutir e vai se deparar com obstáculos complicados no encontro. Isto porque, em fevereiro passado, a Fiba propôs a dirigentes brasileiros a formação de uma força-tarefa para resolver o impasse com aquela entidade. Na ocasião, os dois candidatos ao comando da CBB também participaram da reunião, mas Guy se recusou a aceitar a proposta.

O grupo seria integrado por um representante da Fiba, um do Comitê Olímpico do Brasil, um do Ministério do Esporte, um da CBB e um da Liga Nacional de Basquete, todos com direito a voto. A secretaria ficaria a cargo do ex-jogador de basquete Paulinho Villas-Boas, sem direito a voto.

Tocar uma organização com os dedos de mãos alheias é mesmo algo de difícil aceitação. A dimensão da proposta da Fiba é densa, com prazo superior a um ano para conclusão dos trabalhos da força-tarefa. Tempo longo.

Nada impede, no entanto, que a suspensão seja revertida antecipadamente. Por sua vez, o novo presidente da CBB também pode mudar sua avaliação, hipótese que não parece provável de vir a ocorrer.

Guy leva para a sede da Fiba um plano contendo ações emergenciais para os 100 primeiros dias de sua gestão. Os pontos principais são acabar com a suspensão e deixar o controle do basquete nacional a cargo da nova administração da CBB.

Para que isso aconteça, a Fiba precisa recuar na implantação da força-tarefa, condição que colocará a direção da CBB na sua função de fato e de direito, a de comandar o destino do basquete brasileiro.

O encontro na Suíça é um tiro no escuro. Nesse oceano de incertezas, a nau do basquete brasileiro tenta encontrar seu rumo, agora com novas mãos manipulando o timão e uma tempestade cobrindo o horizonte.


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