Folha de S. Paulo


Após investigações, boxe supera suspeitas levantadas na Olimpíada

As disputas de boxe dos Jogos Olímpicos do Rio terminaram envolvidas em polêmicas e em questionamentos levantados, como de praxe, por perdedores. Quem ganha não reclama, apenas se preocupa em comemorar a vitória.

Cada parte busca o seu interesse. É natural no mundo dos esportes, embora muitas vezes o bom senso seja atropelado. Acontece que a Aiba (Associação Internacional de Boxe), responsável pela modalidade na Olimpíada, decidiu colocar tudo em pratos limpos e não varrer nada para baixo do tapete.

Sem que houvesse indicação de transgressão e para desfrutar de isenção numa investigação interna, afastou 36 árbitros e juízes que estiveram naquela competição, entre eles os brasileiros Jones Kennedy e Marcela Patrícia. Transcorridos cerca de cinco meses do final da Olimpíada, as investigações não encontraram evidência que levasse a alterar qualquer resultado do boxe.

Após análise de vídeos, das pontuações de todas as lutas e da tomada de depoimentos, os oficiais afastados devem ser reintegrados, mas a Aiba vai rever certificações e promover cursos de aprimoramento. A ideia é construir um legado duradouro no setor.

Também será adotado um novo procedimento para evitar influência na escalação de oficiais de cada luta. Os árbitros e juízes dos combates serão apontados por sistema eletrônico, envolvendo apenas um especialista para supervisionar a tecnologia.

A intenção da Aiba é reduzir ao mínimo, já que acabar completamente é impossível, as dúvidas sobre arbitragem, da escala ao desempenho dos oficiais. A meta principal, no entanto, visa impedir qualquer chance da ocorrência de desajustes intencionais, ficando o imponderável por conta dos erros humanos.

O boxe olímpico, em cada luta, escala um árbitro para dirigir a disputa dentro do ringue e, fora dele, cinco juízes para a pontuação. Até a Rio 2016, os cinco juízes anotavam os pontos, mas eram consideradas para o resultado apenas as notas de três deles, definidos por sorteio eletrônico. A partir de agora passam a valer as cinco notas.

Reprodução/Twitter Aiba
O russo peso-pesado Evgeny Tischenko, durante final do mundial de boxe em 2015
O russo peso-pesado Evgeny Tischenko, durante final do mundial de boxe em 2015

Segundo o brasileiro Luiz Boselli, instrutor de arbitragem da Aiba, o quadro da entidade contemplava três grupos de árbitros, de novatos aos mais experientes, e uma turma especial, de referência, com sete profissionais, estes remunerados mensalmente. Esta casta, sempre presente nos eventos, está tendo contratos cancelados e deve acabar.

Na avaliação de Boselli, também ex-árbitro e ex-presidente da Confederação Brasileira de Boxe, as polêmicas são rotineiras no pugilismo, mas a Aiba não podia deixar no ar nenhuma suspeita. Para ele, três ou quatro dúvidas em mais de 200 lutas é muito pouco.

Acontece que poucos dias antes da abertura da Olimpíada do Rio, uma suspeita, sem provas, da possibilidade de manipulação de resultados havia sido levantada em reportagem do jornal britânico "The Guardian".

Técnicos e atletas de vários países refutaram a suspeita. Mas a ardente e intrigante história do boxe, especialmente o profissional, é pródiga em registros sobre maracutaias. Com essa imagem na tela, fica difícil provar até que nariz de porco não é tomada.


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