Folha de S. Paulo


Os desafios de Renan na seleção masculina de vôlei

A decisão tomada por Bernardinho, um profissional exigente e vitorioso, de deixar o comando técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, ouro na Rio 2016, foi o destaque do noticiário esportivo no Brasil na semana.

Já a escolha do novo ocupante do cargo, Renan Dal Zotto, acabou sendo menos impactante e recebida com complacência pelos esportistas em geral. Como ficou explícito que o consagrado antecessor deve colaborar com seu sucessor, esse fato talvez tenha ajudado a reduzir o impacto nessa reformulação na seleção.

Esse tipo de relação, no entanto, mesmo que a princípio saudável, implica sempre no risco de se transformar em faca de dois gumes. Em qualquer atividade, avaliações costumam também provocar reações negativas, às vezes inacreditáveis e inesperadas. Imagine, então, em um time de vôlei internacionalmente vencedor.

Além disso, outro ponto chamou a atenção no anúncio da mudança de comando. A primeira opção de Bernardinho rendê-lo era Roberley Leonaldo, o Rubinho, assistente do treinador na seleção desde 2006 e que estava sendo preparado para assumir o posto.

Essa informação foi dada pelo próprio Bernardinho, que disse ter até criado em seu ex-assistente uma expectativa sobre a possibilidade. Auxiliares competentes e de confiança são armas que fazem a diferença em times de ponta.

Silvio Ávila - 29.abr.2006/CBV
ORG XMIT: 063001_0.tif Vôlei: o ex-jogador e técnico do Florianópolis Renan Dal Zotto durante treino de sua equipe, em Florianópolis (SC). (Foto: Silvio Ávila/CBV)
Renan, técnico da seleção brasileira de vôlei masculino

Renan foi uma preferência da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), mesmo estando há oito anos sem dirigir um time. De 2015 a 2016, trabalhou como diretor de seleções da entidade.

O próprio Bernardinho, por sua vez, confirmou que Renan vai contar com seu respaldo. Eles se conhecem há muito tempo. Foram contemporâneos, como jogadores, na seleção que ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1984. Renan consultou o amigo antes de aceitar o convite, pela amizade e pelo respeito profissional.

O argentino Marcelo Mendez, técnico do Cruzeiro/MG, com invejável currículo, que também parecia forte candidato ao cargo, repentinamente caiu no esquecimento. Ele tem se destacado no vôlei brasileiro de clubes, onde espera continuar trabalhando por muito tempo. Por isso, tanto Mendez como Rubinho continuam cotados para o posto, caso haja necessidade no futuro.

Até agora, o time campeão olímpico voa em paz, sem turbulência. A expectativa fica por conta do anúncio oficial dos integrantes da comissão técnica, uma dúvida que pode se alongar pelos próximos meses.

Sobre ela cabe uma pergunta: Rubinho vai ou não continuar na seleção? O bom senso aponta que sim. Renan o quer na comissão técnica. Falta um encontro para o possível acerto do acordo.

Afinal, Rubinho estava trabalhando com Bernardinho havia uma década. Sabe das coisas, acompanhou o processo que sustentou a equipe nacional na liderança do ranking mundial da modalidade naquele período e na campanha vitoriosa na Olimpíada do Rio.

Aceitará o convite? A resposta não é uma pequena pedra, mas uma montanha, que pode ser removida do caminho da seleção de ouro com um simples sim.


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