Folha de S. Paulo


Ano novo cheio de eventos e dúvidas para o esporte olímpico brasileiro

O ciclo olímpico que vai até Tóquio-2020 já consumiu quatro meses na ressaca da Rio-2016. Esta fase inicial praticamente serviu para relaxamento e recuperação física dos atletas em geral. Poucos esportes continuaram com atividades mais intensas no período.

Por isso o novo ano pode, de fato, ser considerado como o ponto de partida para os Jogos do Japão e também porque 2017 conta com uma série de competições internacionais importantes.

Para se ter uma ideia, na próxima semana começa o Mundial masculino de handebol, na França. O tênis foi o primeiro a abrir sua temporada e dia 16 tem a primeira competição forte: o Aberto da Austrália.

O pontapé de janeiro é aquecimento para o resto do ano, que vai contemplar vários grand prix, ligas e copas do mundo de diversas modalidades.

As cerejas nesse bolo são os Mundiais, entre eles os de atletismo, canoagem de velocidade, boxe, judô, ginástica (artística e rítmica), ciclismo (estrada, BMX), maratona aquática, vôlei de praia e handebol feminino.

Damien Meyer/AFP
Brazil's Erlon De Souza Silva and Brazil's Isaquias Queiroz Dos Santos compete in the Men's Canoe Double (C2) 1000m event at the Lagoa Stadium during the Rio 2016 Olympic Games in Rio de Janeiro on August 19, 2016. / AFP PHOTO / Damien MEYER
Isaquias e Erlon De Souza Silva, na Rio-2016

A grade de esportes olímpicos é robusta. Em cada país, as modalidades articulam seus planos de preparação em parceria com o comitê olímpico nacional local.

No Brasil não é diferente. Entretanto, nesse período pós-Olimpíada, ainda com gastos a saldar –desde dívidas com fornecedores contratados a reembolsos de ingressos a consumidores– do evento realizado em casa e
desconfortos com a crise econômica, os investimentos na área esportiva por aqui vão deixar a desejar, pelos menos temporariamente.

Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador da Olimpíada-2016 e depois do evento eleito para a sexta gestão consecutiva no comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil), descarta investimento semelhante ao do período pré-Jogos do Rio.

A partir deste mês, o COB vai se reunir com as confederações esportivas nacionais para apresentação dos critérios de distribuição de verbas, ajustes orçamentários e elaboração de projetos.

Antecipou em dezembro quanto cada confederação deverá receber, com base em uma estimativa geral de recursos para o ano, na casa dos R$ 210 milhões. É verba da Lei Agnelo-Piva, que destina ao esporte 1,7% das loterias federais. O COB e as confederações esportivas podem ampliar seus caixas buscando patrocínios na iniciativa privada e até aportes governamentais.

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ, BRASIL. 21/08/ 2016; Entrevista com o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman em hotel na Barra da Tijuca. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress) *** EXCLUSIVO FOLHA ***
Carlos Arthur Nuzman em hotel na Barra da Tijuca, no Rio

No Reino Unido, que também destina verbas de governo e de loteria para o esporte, a situação parece mais estável para o setor. Tanto que a UK Sport, a agência desportiva de alto desempenho do país, anunciou recentemente um investimento de 345 milhões de libras (cerca de R$ 1,3 bi) para o ciclo Rio-Tóquio.

Os desempenhos do Reino Unido e do Brasil no palco olímpico têm alguns pontos em comum, que estabelecem um bom parâmetro. Ambos terminaram com o mesmo número de medalhas em Atlanta-1996 (15).

Depois, o Reino Unido, em Londres-2012, e o Brasil, no Rio-2016, foram organizadores de um evento cada nos cinco Jogos realizados. Nesse período, no entanto, o Reino Unido avançou a passos largos, enquanto o Brasil caminhou lentamente no quadro de medalhas.

No Rio, a delegação nacional terminou com 19 medalhas (7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze), em 13.lugar na classificação geral, enquanto o Reino Unido ficou em segundo, com 67 (27 de ouro, 23 de prata e 17 de bronze).

Qual o motivo da grande diferença nesses desempenhos esportivos? Com certeza, um investimento maior, planejamento e aplicação mais bem acertada das verbas.

Haveria algum coelho especial nessa cartola? Parece que sim, mas uma coisa está clara: o Reino Unido é um bom exemplo a ser estudado minuciosamente pelo governo e pela comunidade esportiva nacional.


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