Folha de S. Paulo


Missão de Emily à frente da seleção de futebol marca um novo tempo

A seleção brasileira feminina de futebol deu o primeiro passo no ciclo olímpico que culminará na Olimpíada de Tóquio-2020. Sagrou-se campeã do torneio internacional de Manaus, encerrado domingo (18), com participação de Brasil, Rússia, Costa Rica e Itália. A grande novidade foi a estreia de Emily Lima no comando da equipe, na qual nunca antes uma mulher ocupara o cargo. É o início de um novo tempo.

De Zé Duarte, técnico em Atlanta-1996, quando o torneio feminino foi introduzido na Olimpíada, a Oswaldo Alvarez, o Vadão, na Rio-2016, a equipe não decolou por completo, mas também não decepcionou. É correto afirmar, sem qualquer dose de exagero, que um balanço dessa fase mostra que a seleção teve êxito.

Terminou em quarto lugar em Atlanta, em sua aparição nos Jogos Olímpicos, e, em Sydney, quatro anos mais tarde. Depois ganhou duas pratas (em Atenas-2004 e Pequim-2008). Nesse período também arrebatou uma prata no Mundial da China, em 2007. Em Londres-2012, caiu nas quartas de final e, em agosto último, terminou em quarto, nos Jogos do Rio.

Esse retrospecto é um sinal positivo da força do futebol feminino brasileiro. Isso tudo aconteceu apesar de a área ter sido pouco, quase nada, incentivada nestas duas últimas décadas. Recebeu um apoio mais substancial, mas abaixo do que necessitava para evoluir, quando os Jogos em casa viraram o alvo principal. Um pouco tarde.

Agora, por exemplo, Emily defende propostas para criação de campeonatos estaduais sub-20, categoria que serve para projeção de jogadoras, e de incentivo para seleções de base. Tomara que a Confederação Brasileira de Futebol assuma esse projeto com seriedade, diferente de tantos outros que nunca passaram de fogo de palha da cartolagem, tal a rapidez com que caíram no esquecimento.

A técnica Emily Lima confia nessas possibilidades. Ao assumir a função, deixou claro que sua proposta é dar prosseguimento ao trabalho do seu antecessor e, aos poucos, introduzir inovações técnicas e táticas, a fim de acompanhar a evolução da modalidade.

Um dos desafios que vai enfrentar, e ela tem consciência disso, segundo revelou em entrevistas, é a renovação da seleção. Acaba de perder a jogadora mais veterana da equipe, Formiga, 38, que decidiu se despedir em Manaus. Emily, no entanto, não pretende radicalizar. A ideia dela, inicialmente, é mesclar atletas experientes com novatas e, aos poucos, chegar a um ponto ideal.

A nova técnica da seleção é paulistana, tem 36 anos e começou a jogar bola quando criança. Estreou no futebol aos 13 anos e passou por vários clubes, além de ter defendido a primeira seleção brasileira sub-17, em 1997, e, como volante, a seleção portuguesa principal de 2007 a 2009. Atuou cinco anos na Espanha e uma temporada na Itália. Parou de jogar aos 29 anos, depois de lesões no joelho. Na função de treinadora estreou em 2010, em clube, no Juventus, e, três anos depois, em seleção, na sub-17 do Brasil.

A equipe olímpica masculina do Brasil penou muito antes de subir ao pódio para receber seu primeiro ouro, no Rio. Mesmo assim, só conseguiu o feito depois de muita tensão e na decisiva cobrança de Neymar, no desempate por pênaltis diante da Alemanha. Antes, a seleção ostentava três medalhas de prata e duas de bronze. O time feminino parece trilhar um caminho semelhante, árduo. Será que vai superar os obstáculos e chegar ao almejado ouro?


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