Folha de S. Paulo


Luta contra patifaria de doping é o destaque na temporada olímpica

A luta contra o doping teve papel proeminente no esporte mundial em 2016, ano olímpico. Foi surpreendente, porém, com suas revelações, trouxe constrangimento para o mundo dos esportes. A temporada chega ao final com a divulgação da segunda parte do relatório que mostra a extensão da patifaria da Rússia, articuladora de um esquema de consumo de substâncias ilegais no esporte, com participação estatal, envolvendo mais de mil atletas.

A primeira parte já havia provocado o afastamento de todos os representantes russos dos torneios de levantamento de peso e de atletismo da Olimpíada do Rio, exceto da saltadora em distância Darya Klishina, que tinha controle antidoping realizado nos EUA.

O COI deixou a cargo das federações internacionais a decisão final sobre a possibilidade de vetos na Olimpíada, enquanto a posição da Wada (Agência Mundial Antidoping) caminhava no sentido de que todos os russos ficassem fora dos Jogos do Rio.

As relações entre as duas entidades chegaram a ficar um pouco azedas. Só agora, no início de dezembro, ambas voltaram a caminhar de mãos dadas, dispostas a lutar juntas no fortalecimento do combate ao doping e na proteção aos atletas limpos.

Adrian Dennis/AFP
Professor Richard McLaren speaks during a press conference following the publication of his report on drug use in Russian sport, in central London on December 9, 2016. More than 1,000 Russian athletes in about 30 sports took part in an
O professor Richard McLaren, que encabeçou investigação sobre o doping na Rússia

A Rússia só pôde enviar ao Rio 271 atletas dos 389 que contemplavam a lista inicial de sua participação nos Jogos. O Comitê Paraolímpico Internacional, por sua vez, teve uma reação mais forte, e impediu que qualquer russo estivesse na Paraolimpíada.

A temporada registrou inúmeros atletas de diversos países e de várias modalidades flagrados em avaliações antidoping. Testes refeitos das Olimpíadas de Pequim e Londres também levaram à cassação de medalhas. Avanços tecnológicos continuam desmascarando as farsas.

O caso russo, no entanto, foi o principal marco até agora da história de escândalos de doping nos esportes. Cartolas e políticos russos alegaram inocência, repetindo padrão de denunciados em qualquer tipo de falcatrua –vide os desdobramentos da Lava Jato, por aqui–, mas as provas da acusação foram contundentes. Os debates prosseguem e o desfecho final da punição continua incerto.

Na tentativa de se defender, o ministério de Esportes da Rússia chega até a anunciar que continuará aplicando a política de tolerância zero na luta contra o doping. E a Câmara dos Deputados do país, recentemente, aprovou uma lei determinando penas de prisão e multas para aqueles que promoverem o doping no esporte em seu território.

Nesta segunda (12), a Associação Mundial de Atletas Olímpicos, que reúne 120 mil participantes e ex-participantes dos Jogos, divulgou comunicado defendendo a proposta de que culpados de doping, mesmo que tenham cumprido a suspensão determinada, não voltem a competir em outra edição do evento. A associação pede ainda o banimento para aqueles que organizarem esquema de doping.

Brasileiros também foram flagrados em testes antidoping na temporada. Entretanto, o pior golpe sofrido pelo esporte nacional no período foi a Wada ter anunciado o descredenciamento da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), por desacertos em suas atividades.

Isso ocorreu em novembro, depois dos Jogos do Rio, e não se fala na reversão da situação. Dessa forma, na próxima temporada, os testes antidoping de atletas no Brasil correm o risco de terem de ser analisados em laboratórios no exterior, cujos custos são superiores aos daqui. Uma dificuldade a mais, considerando a crise econômica instalada no país e a redução de investimentos e patrocínios no setor esportivo.

Ainda abalado pelos golpes de doping, o esporte mundial vai entrar no novo ano com a nuvem de denúncias e clima de suspeitas no horizonte. Mas, certamente, mais atento na vigilância contra trapaças de doping.


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