Folha de S. Paulo


Jogos Olímpicos e profissionalismo, uma opção complicada para pugilistas

Trocar ou não o "amadorismo" pelo profissionalismo? Essa dúvida cruel que sempre martirizou os pugilistas no pós-Olimpíada já não existe mais.

O boxe mundial desenha novas fronteiras. A barreira imposta aos profissionais para participação nos Jogos foi derrubada nas vésperas da Olimpíada no Rio, deixando pouco tempo para que pugilistas profissionais tivessem a alternativa de abraçar a nova realidade.

Antes, quem buscasse o boxe remunerado já sabia que estaria impedido de lutar na Olimpíada. Com a abertura, o boxe olímpico derrubou suas portas, mesmo contra opiniões de que a experiência de um profissional pode representar até risco à integridade física de um oponente olímpico.

O boxe brasileiro tem duas medalhas olímpicas inéditas, o ouro no Rio, do baiano Robson Conceição, e a prata em Londres-2012, do capixaba Esquiva Falcão.

Ambos não vacilaram. Esquiva escolheu o profissionalismo, mesmo quando essa condição o impedia de lutar na Olimpíada, e Conceição, menos de três meses depois dos Jogos do Rio, seguiu o mesmo caminho do compatriota.

Conceição, com experiência adquirida em três Olimpíadas, estreou com vitória no profissionalismo, recentemente, em Las Vegas.

Superou o norte-americano Clay Burns, por pontos, em seis assaltos. O adversário subiu ao ringue respaldado por um cartel pouco expressivo, com quatro vitórias, dois empates e duas derrotas.

Esquiva sequer esperou pelos Jogos no Brasil. Depois da medalha, cerca de quatro anos atrás, resolveu dar uma guinada na carreira e planeja chegar ao título profissional até 2018.

No último fim de semana, em Fresno, EUA, ele manteve sua invencibilidade profissional com 16 vitórias (12 por nocaute) ao derrotar o porto-riquenho Luis Gustavo Hernández, por pontos. O rival vinha de 15 vitórias, oito delas por nocaute, e duas derrotas.

Será que esses brasileiros alimentam alguma esperança de conciliar profissionalismo e olimpismo? Esse passo não é fácil como parece, a princípio. Não apenas para brasileiros, mas para qualquer pugilista.

Há conflitos entre a teoria e a prática. Nenhum empresário da área manifestou euforia pela adoção da abertura olímpica. Boxe profissional movimenta muito dinheiro.

Como já exposto aqui anteriormente, qual empresário vai querer colocar sob risco, gratuitamente, sua galinha de ovos de ouro? Para eles, boxe é negócio.

Nada de desperdiçar oportunidades de volumosos ganhos com lutas entre profissionais. Os contratos prendem os lutadores aos agentes, que ditam as regras.

Nesse ramo, a motivação é correr atrás de eventos milionários, embolsar fortunas. Olimpíada é só um passo, a passarela que mostra futuras estrelas para o boxe profissional.


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