Folha de S. Paulo


Punições, prenúncio de dificuldades para o esporte no Brasil pós-Olimpíada

Charlie Neibergall/Reuters
Nenê, do Brasil, e Luís Scola, da Argentina durante partida do basquete masculino na Rio-2016
Nenê, do Brasil, e Luís Scola, da Argentina durante partida do basquete masculino na Rio-2016

Completados três meses desde o final dos Jogos Olímpicos, a euforia pelo sucesso do evento no Rio começa a ser fustigada pela realidade cotidiana dos esportes no Brasil.

Ocorridos na última semana, dois episódios –punições da Fiba ao basquete brasileiro e, mais grave ainda, da Wada (Agência Mundial Antidoping) contra a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem)– não deixam dúvidas sobre as dificuldades que o setor tem pela frente no país.

A Federação Internacional de Basquete suspendeu temporariamente a confederação brasileira da modalidade por fatos que julga não estarem em conformidade com as suas regras. A decisão impede que times do Brasil participem de torneios com a chancela da entidade.

A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) ainda não tornou público seus esclarecimentos sobre os questionamentos da Fiba. Cancelou a entrevista coletiva que tinha agendado para tal fim.

Talvez esteja esperando pelo retorno ao país do presidente do comitê organizador da Rio-2016 e do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman, que já abriu a discussão do impasse com a Fiba, fato que neste momento passa a ser conhecido.

Foi em Doha, no Qatar, onde Nuzman participava de um encontro de comitês olímpicos nacionais. Lá estava também o todo-poderoso secretário geral da Fiba, o suíço Patrick Baumann.

A caótica situação financeira da CBB não predominou no encontro, no qual foram abordadas falhas administrativas e organizacionais da entidade brasileira.

As conversas entre Baumann e Nuzman tiveram como pano de fundo preocupação com as futuras competições classificatórias de seleções de basquete para os torneios olímpicos de Tóquio-2020, masculino e feminino.

Uma possível mediação (ou intervenção) do COB, como aconteceu no passado, com entidades de outros esportes em crise, é hipótese que não deve ser descartada.

Na área do doping, o conflito é mais delicado ainda do que o impasse no basquete. A Wada anunciou que o Brasil está fora dos padrões do Código Mundial Antidoping e decidiu retirar o credenciamento da ABCD.

Trocando em miúdos, exames contra dopagem feitos no Brasil perdem a validade internacional. O principal motivo foi a demora do país para colocar em funcionamento seu Tribunal de Justiça Antidopagem.

Há outras irregularidades. Como mostrou o jornalista Paulo Roberto Conde nesta Folha, a ABCD é órgão atrelado ao Ministério do Esporte e vem preenchendo cargos de forma irregular.

Vale ainda destacar que o Brasil investiu R$ 188 milhões no LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem), usado na Olimpíada.

São vexames, tanto o caso do doping como o do basquete, que nada têm a ver com a crise –política, econômica e social– instalada no país e agravada a cada dia. Sem as fantasias dos grandes eventos internacionais, o esporte nacional deixa à mostra suas condições precárias e incômodas.

Ao bancar a Copa e a Olimpíada, empreendimentos que exigiram enormes sacrifícios, vários dos quais além das capacidades disponíveis, a expectativa no Brasil era de uma evolução, mesmo que leve, nas organizações esportivas nacionais. Entretanto, tudo parece caminhar ladeira abaixo.


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