Folha de S. Paulo


Basquete do Brasil está encurralado pela Fiba

A punição aplicada pela Fiba (Federação Internacional de Basquete) é vexatória para o basquete do Brasil. Derrotas e vitórias nas quadras fazem parte do jogo. Uma suspensão dos eventos internacionais por má gestão e descumprimento de acordos é bem diferente, arranha a história do basquete brasileiro.

As alegações que sustentam o posicionamento da Fiba não estão esmiuçadas. A partir desta terça (15) devem despontar os detalhes. Uma certeza, porém, é a fragilidade da CBB (Confederação Brasileira de Basquete), responsável pela modalidade no país. A entidade informou que vai responder ponto a ponto as acusações, após este feriado da Proclamação da República.

Com a CBB atolada em dívidas, resultado de desmandos e fracassos de sua administração, o basquete –que já desfrutou da fama de segundo esporte nacional, atrás apenas do futebol, mas perdeu prestígio– vem dando cabeçadas há vários anos. Nos últimos tempos, inclusive, deixou de cobrir dívidas com a própria Fiba, que organiza o esporte mundialmente.

A Fiba teve paciência, permitiu o adiamento ao cobrar parcelas do seu crédito, mas não é dócil, menos ainda passiva, ao ponto de virar o rosto para receber tapa no outro lado da face. Corre atrás dos seus interesses. A situação financeira da filiada CBB não permite a ela que banque suas operações, afirma a própria credora.

O acordo para que o Brasil participasse, como "convidado", do último Mundial masculino, resultou em uma pesada dívida da CBB com a Fiba. A seleção havia fracassado na tentativa de conquistar uma vaga em torneio classificatório. Como o Brasil, ao lado dos EUA, era o único país a ter participado de todos os Mundiais anteriores, não ficar fora do evento era uma questão de honra, e da história, agora manchada pela suspensão.

Mesmo estando em situação praticamente falimentar, segundo análise de seu balanço financeiro feita por um especialista na matéria, a confederação não teve cuidados para assumir a dívida. Os tropeços nesse negócio por pouco não complicaram a participação das seleções nacionais, masculina e feminina, nos Jogos Olímpicos do Rio. As duas equipes acabaram garantidas pela Fiba, após negociações e a promessa de que não haveria calote.

A Fiba alega, entre outros motivos, que a CBB precisa de reestruturação, não cumpre suas obrigações e não segue o estatuto internacional na organização da sua administração. Aponta também falta total de controle do basquete no país e a intervenção de terceiros na escolha e no custeio de atividades da seleção nacional. Recentemente, um enviado da Fiba acompanhou os trabalhos da entidade brasileira.

No masculino, o basquete do Brasil conquistou três medalhas olímpicas de bronze (Londres-48, Roma-60 e Tóquio-64), e dois títulos mundiais (Chile-59 e Rio-63). E se manteve na vanguarda nos eventos internacionais. Começou a recuar ao ficar fora de três Olimpíadas consecutivas (Sydney, Atenas e Pequim). Esboçou reação em Londres-12, com um quinto lugar. No Rio, fracassou ao não passar da primeira fase, nos dois gêneros. No feminino, ganhou o ouro no Mundial da Austrália-94 e arrebatou medalhas olímpicas de prata em Atlanta-96 e, de bronze, em Sydney-00.

O basquete nacional tem história de dar orgulho aos seus esportistas e fãs, mas não suporta mais a incompetência da sua cartolagem.


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