Folha de S. Paulo


Esportes ensaiam ajustes na luta contra o doping

O mundo dos esportes aperta o passo na busca por instrumentos mais eficazes no controle antidoping. Nesse sentido, o COI (Comitê Olímpico Internacional) acaba de encaminhar proposta à Wada (Agência Mundial Antidoping).

Líderes de entidades esportivas internacionais apoiam a liderança daquela agência para um sistema antidoping "mais robusto, mais eficiente, mais transparente e mais harmonizado".

O COI, que reúne entidades poliesportivas de 206 países, também reforçou planos para que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) assuma a condição de única instância para a aplicação de sanções em violações por doping. Atualmente, ela é acionada apenas em recursos.

Caso a CAS abrace o projeto, as federações internacionais de cada esporte perderão poder e influência na área. A expectativa é a de que o setor ganhe uma política mais padronizada e mais independente para o controle das várias modalidades, com todos rezando pela mesma cartilha.

A princípio parece justo. Mas como e quem bancará tal estrutura de controle? As federações e o COI poderão disponibilizar fundos? Uma coisa o COI deixa claro: haverá separação de funções entre a autoridade e a Wada.

Garantir isenção ampla e irrestrita em decisões sobre doping é assunto delicado, especialmente num ambiente conturbado pelas contradições políticas, culturais, sociais e econômicas vigentes dentro e fora do mundo dos esportes.

A proposta, entre outras situações, foi alavancada pela polêmica da Olimpíada do Rio, quando o COI deixou para as federações internacionais a decisão sobre a participação ou não no evento de qualquer atleta da Rússia. O atletismo, por exemplo, optou pelo veto, diferentemente de outros esportes.

Naquela oportunidade, o doping acabou tendo dois pesos e duas medidas. A Rússia, fonte do impasse, estava envolvida em escândalos, com denúncias da existência de um esquema estatal e da participação de dirigentes esportivos daquele país na prática e no encobrimento de doping.

Flagrantes de doping e de corrupção costumam deixar os esportes acuados, sujeitos à desmoralização. Ações de combate a esses golpes têm bombardeado a existência de vários deles, mas sem impedir a proliferação de novos episódios. Difícil é apagar as marcas que ficam, principalmente da desconfiança.

O futebol, certamente a modalidade com maior expansão mundial, não foge à regra e luta contra o doping, embora também sujeito a equívocos, como o ocorrido em abril com Alecsandro, do Palmeiras. O atacante conseguiu provar sua inocência –havia sofrido contaminação em procedimento capilar– após receber suspensão de dois anos por doping.

A modalidade tem outras agruras, além do doping, para se preocupar no momento. Parece dispensar mais atenção com a corrupção, que recentemente levou ao afastamento do até pouco tempo atrás intocável presidente da Fifa, Joseph Blatter, e do seu presunçoso secretário, Jérôme Valcke. Também colocou na cadeia o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

Um entrosamento cada vez maior entre COI e Wada deve resultar em benefícios para o controle antidoping, tornando as disputas mais limpas. Disso não resta nenhuma dúvida. Entretanto, trapaceiros estão permanentemente de plantão.


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