Folha de S. Paulo


Esporte caminha de mãos dadas com a política, mas pouco avança

Esporte e política costumam caminhar de mãos dadas, apesar das vozes contrárias, alertando que não devem se misturar. A política partidária sempre se valeu do prestígio de esportistas para garantir votos a mais nas urnas.

Como uma mão lava a outra, alguns profissionais da política retribuem, um prato cheio apenas para os interesses da cartolagem. A parceria política-esportiva tem apresentado pouco resultado para a segunda parte desse binômio.

Uma política nacional de esportes, justa, moderna e transparente, por exemplo, está para este país como uma árvore quase seca, sem frutos, flores ou sombra. Até educação física, atividade direcionada ao bem-estar e à saúde, sofre questionamentos, numa absurda inversão de valores.

A esperança é que questões derivadas desses tipos de raízes estejam despertando mais cuidados e precauções com candidaturas atreladas ao esporte, como seu viu nas eleições municipais do domingo (2). Poucos esportistas se elegeram, um contraponto diante dos rejeitados, alguns famosos, de várias modalidades.

Uma exceção, de porte, fica por conta da prefeitura de Belo Horizonte, onde a votação levou ao segundo turno dois nomes ligados ao Atlético Mineiro, o do ex-goleiro João Leite (PSDB) e o do ex-presidente Alexandre Kalil (PHS).

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João Leite e Alexandre Kalil (PHS) disputam segundo turno em Belo Horizonte

A área esportiva tem mudado pouco, mesmo com a evolução mundial dos esportes, que abriram mais oportunidades para que verbas públicas e privadas cheguem ao setor.

Nesta terça (4), o esporte nacional tem um pleito de destaque, o do comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Carlos Arthur Nuzman, 74, por aclamação, vai ser mantido no cargo de presidente, para o seu sexto mandato consecutivo. Encabeça a chapa única.

Iniciou no cargo em 1995 e, no ano seguinte, o Brasil terminou com 15 medalhas (3 de ouro) nos Jogos de Atlanta. Nuzman, naquela oportunidade, disse que não era um resultado de sua gestão, iniciada na reta final para os Jogos. Esperava por dias melhores.

No Rio, em casa, duas décadas depois, a delegação nacional deu um passo tímido, com saldo de 19 medalhas (7 de ouro).

Quando o assunto mistura esporte e política, dificilmente algo é tão emblemático como uma avaliação do presidente dos EUA, Barack Obama. Ele declarou que tanto as decisões do COI (Comitê Olímpico Internacional), quanto as da Fifa (Federação Internacional de Futebol), são "um pouco manipuladas". Abordou o tema recentemente em entrevista.

Essa suspeita surgiu, entre outras situações, com a escolha da sede da Olimpíada-2016, que, para ele, deixou algumas dúvidas. Chicago, então postulante aos Jogos e reduto político de Obama, tinha a proposta mais acertada, na avaliação do próprio presidente. Por isso estranhou a cidade ter sido a primeira eliminada das quatro finalistas. Caíram Chicago e Tóquio. Na última votação, o Rio bateu Madri.

Eleições, quaisquer delas, costumam ser permeáveis a conjecturas e fantasias, principalmente de perdedores. Dúvidas nunca devem ser ignoradas. Em contrapartida, não descartam corroboração de provas.

Não é improvável que Obama esteja iniciando uma forma de pressão internacional, pouco saudável, para a escolha, no ano que vem, da sede dos Jogos de 2024, na qual Los Angeles vai enfrentar Paris e Budapeste. É o jogo da política. Ou ele ainda não se conformou com a vitória do Rio?


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