Folha de S. Paulo


Como explicar a volta por cima de Usain Bolt no Engenhão?

O jamaicano Usain Bolt, o homem mais veloz do atletismo mundial, deu um susto nos espectadores quando seu reinado nos 100 m rasos ficou ameaçado durante alguns segundos no estádio olímpico do Rio. Mas ele reagiu e virou o jogo, bem ao seu estilo, atropelando os rivais.

Ganhou o ouro olímpico na distância pela terceira vez consecutiva, uma façanha. Agora vai tentar repetir feito semelhante nos 200 m rasos e no revezamento 4x100 m com a equipe da Jamaica.

Usain Bolt é também o número um na preferência do público. O carisma do campeão leva os esportistas a acompanharem todos os seus movimentos. Costumeiramente vencedor das provas das quais participa, retribui o carinho das arquibancadas.

O que leva um atleta a tal perfeição, a de nunca ter perdido uma única prova olímpica? Primeiramente ele sempre está preparado para os momentos especiais, como disputas de Mundial e de Olimpíada.

Outros diferenciais são o domínio da técnica e da tática de corrida. Atleta alto –1,95 m e 94 kg–, Bolt sempre tem dificuldades na partida. Em compensação sua recuperação é fantástica. Os últimos 20 metros são avassaladores como o foram nesta vitória.

Os recordes mundiais dos 100 m, de 9s58, e dos 200 m, de 19s19, foram cravados por ele em 2009, em Berlim. Por isso fica a imagem de que ele não correu tão bem agora no Rio, ao ganhar com 9s81.

Apesar disso, Bolt cruzou a linha de chegada com segurança, sem que estivesse ameaçado naqueles momentos decisivos. A dúvida é se ele também seria mais veloz caso os rivais corressem mais rápido.

O brasileiro Róbson Caetano, ex-velocista participante de quatro Olimpíadas e hoje comentarista de TV, destaca que viu o então bicampeão defendendo o título e o norte-americano Justin Gatlin, segundo colocado (9s89), correr como um garoto tentando o ouro. E o Bolt usou o apoio da torcida como combustível, transformando tudo em resultado.

Também especialista no assunto, o ex-velocista e agora técnico de atletismo, Katsuhiko Nakaya, avalia que Bolt está bem, um pouco abaixo da sua melhor forma. Por ser alto, a passada dele rende mais do que a dos adversários, além do nível de frequência ser bom e a sequência, nervosa.

Nakaya ressalta que Gatlin quando compete sem pressão, como vinha ocorrendo nesta temporada, rende bem. Entretanto, a postura muda diante de Bolt, fica mais contraído. Tanto que a melhor marca dele no ano, 9s80, daria ouro na Olimpíada.

Numa comparação entre outras performances de Bolt e a desta vez, talvez tenha sido o momento mais crítico da carreira do campeão, aqueles segundos nos quais ficou atrás em demasia após a largada. O mérito é que teve força e capacidade psicológica para reagir. Assim costumam ser os verdadeiros campeões, que viram lenda.

Chamada - Rio 2016


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