Folha de S. Paulo


Acostumada com futebol, torcida do Brasil muda clima nas arquibancadas

A Olimpíada não vai mudar o Brasil, mas a Olimpíada não vai ser a mesma depois do Brasil. Pelo menos no que toca ao comportamento dos torcedores. A farra das torcidas de futebol tomou conta do evento poliesportivo no Rio, embora em Jogos Olímpicos os espectadores, via de regra, sejam mais contidos.

Cantos, danças, vaias ao adversário do Brasil e às equipes mais poderosas, gritos de incentivo ao time mais fraco diante de um forte e "ôlas" têm sido observadas nas arenas olímpicas.

Gritos de guerra tipo "uuu, vai morrer", do futebol e do MMA, fazem parte das manifestações, especialmente no boxe. Jornalistas e esportistas estrangeiros acham estranho essa postura.

O atirador Felipe Wu, o primeiro brasileiro a ganhar medalha (prata) nesta Olimpíada, ficou extasiado. Ele achava que torcida não fazia diferença no tiro. Mudou de ideia e disse que sentiu uma energia.

No boxe, o público é disparado o mais barulhento. O chão da arquibancada de boxe é de metal. As pessoas batem os pés no chão para fazer um barulho ensurdecedor. Chineses e cubanos têm preferência sobre europeus e americanos.

Em competições europeias de esgrima, o público é sóbrio. Aqui teve um show de vaias. Os brasileiros não levaram medalhas, mas conseguiram vitórias. A modalidade caiu no gosto do público também por ser de fácil entendimento.

No handebol, a torcida joga com a seleção nacional, gritando nos gols e soltando o famoso "uuuu" nas bolas que passam perto do gol.

Teve "ôla" até na ginástica e vaias despontaram quando as notas eram muito baixas. A sensação é a de que o público conhece o esporte.

No polo aquático, o Brasil ganhou da Austrália em clima de final de campeonato de futebol. Em contrapartida, no hóquei na grama, com predominância de holandeses, que são discretos, há saudações ao nome do país sem praticamente ninguém se mexer na cadeira.

No futebol, não há vaias aos rivais no torneio feminino, no Rio. No masculino, em Brasília, a torcida entoou o "sou brasileiro", de gosto duvidoso, e chegou a torcer contra o Brasil, quando as coisas não estavam bem em campo. Parece elitizada demais para o futebol, embora com bandeiras e camisetas de clubes.

No basquete masculino, o Brasil perdeu da Lituânia, mas quando o time reagiu durante a partida, a torcida, que não vaiou em nenhum momento, gritou o "eu acredito", mote no futebol.

Novak Djokovic, maior estrela do tênis mundial da atualidade, foi eliminado pelo argentino Del Potro, que teve torcida ferrenha de compatriotas. A rivalidade do futebol ficou evidente no local, com os brasileiros incentivando o sérvio. Enfim, torcedor é livre para torcer, só precisa saber os limites. Esta Olimpíada ainda vai longe.


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