Folha de S. Paulo


Um chefe encurralado

O técnico Dunga está encurralado após o retumbante fracasso da seleção brasileira na Copa América Centenário. A CBF define nesta terça (14) se ele continua como comandante das equipes principal e olímpica do país.

A eliminação foi um vexame e complicou a dupla função do treinador. Na verdade, Dunga caiu na armadilha da vaidade e da soberba ao aceitar o encargo da direção das duas seleções. Enfim, concordou com uma política menor, de tapa-buraco, da presidência da CBF.

A entidade optou pelo comodismo de apenas um técnico, em vez do esforço na busca por outro profissional para trabalhos específicos em cada seleção. Além disso, um é mais fácil de controlar do que dois. Ou terá sido mera fragilidade na busca por outro treinador?

Apesar desta edição da Copa América ser meramente comemorativa, com ares de festividade e tom menor de grande evento do futebol internacional, a seleção ainda estava numa chave com adversários que mereciam respeito, mas de pouca expressão, como Haiti, Equador e Peru.

Deixando de lado esse torneio recreativo nos EUA, o futebol brasileiro tem duas missões desafiadoras pela frente, as conquistas da inédita medalha de ouro olímpica no Rio, em agosto, e de uma vaga para a Copa-18, na Rússia. Nas eliminatórias sul-americanas para o Mundial, o Brasil realiza campanha fraca, na sexta posição.

Experiências anteriores com um único técnico para as duas seleções não foram felizes. Dunga que o diga. Comandou o time medalha de bronze em Pequim-08 e fracassou no Mundial-10 na África do Sul. Pior ainda: Vanderlei Luxemburgo, em 2000, e Mano Menezes, em 2012, perderam na Olimpíada e acabaram demitidos do time principal.

Dunga assumiu a seleção principal em 2014, após a Copa. Alexandre Gallo ficou com o time olímpico, mas acabou demitido em maio último. Despontaram conversas sobre possíveis desentendimentos com o coordenador de seleções, o ex-goleiro e ex-agente de jogadores Gilmar Rinaldi.

Nesse movimento de peças, Dunga abraçou também o time olímpico —e o deixou aos cuidados de Rogério Micale, que vinha trabalhando com seleções de base, até que pudesse assumi-lo com exclusividade na reta final.

Será que vai conseguir?

Depois da medíocre campanha da equipe nacional na Copa-14, apimentada pelo 7 a 1 diante da Alemanha, e agora na Copa América, uma nuvem de dúvidas envolve o passo mais próximo, a Olimpíada do Rio.

O futebol brasileiro vem acumulando trombadas nos gramados.

Fora dele, tem seu brilho ofuscado por denúncias de corrupção e com a repercussão de escândalos tendo como suspeitos ex-presidentes da CBF.

São os casos de João Havelange e Ricardo Teixeira, mais a prisão de José Maria Marin, além do temor do atual comandante da entidade, Marco Polo Del Nero, de deixar o país e ter problemas no exterior.

Talvez esse seja, no momento, o maior peso das seleções, sem representatividade à altura e pouca força nos bastidores.

Uma suspeita disso foi a eliminação na Copa América com um gol de mão do Peru. Houve protesto em vão dos jogadores contra a falha do juiz. Situação delicada às vésperas de uma Olimpíada em casa.


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