Folha de S. Paulo


Dilema olímpico

O novo ministro interino do Esporte, Ricardo Leyser, e o presidente do Comitê Organizador da Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, têm expectativas diferentes sobre a baixa procura de ingressos até o momento para os Jogos Olímpicos do Rio. Foram vendidos pouco mais de 50% dos tíquetes da Olimpíada e cerca de 10% dos Jogos Paraolímpicos.

Nuzman não vê esses dados com preocupação extrema e diz que o costume do Brasil é deixar para a última hora. Numa referência sobre se a fraca venda de ingressos até agora prejudicou os trabalhos de organização, o dirigente ressalta que a avaliação tem que ser feita depois dos Jogos. Apesar disso, é certo que a arrecadação com ingressos tem importância no orçamento do evento.

Enquanto isso, Ricardo Leyser afirmou ao jornalista Paulo Roberto Conde, em reportagem publicada nesta Folha, que vai procurar alternativas para despertar possíveis interessados. Entretanto uma das iniciativas aventadas, segundo ele, é a União comprar entradas para distribuir em escolas públicas, sobretudo no caso dos Paraolímpicos.

Um plano ousado, levando-se em conta que o país enfrenta uma conturbada crise econômica e política. Como abocanhar mais verba pública para os Jogos?

Caso a intenção seja contemplar a fala do ministro de que há um conteúdo humano e de valores, e é a época de trabalhar esses valores, então bastaria um acordo entre comitê organizador e governo para tornar grátis um determinado lote de ingressos, sem a necessidade de pagar pelo mesmo.

O investimento social estaria mantido. Em contrapartida, o comitê organizador ficaria com a possibilidade de arrecadação reduzida e teria de cortar investimentos nesta reta final. Seria uma tarefa quase impossível diante dos compromissos básicos assumidos, em andamento e inadiáveis. Dúvida cruel: se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come. Ou será que a avaliação de Nuzman está correta?

PÓS-JOGOS

Outra dúvida sem resposta: quem vai bancar a manutenção e o funcionamento das instalações construídas para o evento após o término dos Jogos? O legado olímpico exige empreendimento de alto custo.

Em sabatina na Folha, Nuzman deixou claro que o COB (Comitê Olímpico do Brasil), também presidido por ele, tem condição de trabalhar na área técnica, não na manutenção, e que o encargo caberá a órgãos públicos. Situação complicada e desconfortável em tempos de crise.

DUNGA

O técnico Dunga vinha desfrutando de certa tranquilidade no comando da seleção principal de futebol. Talvez por isso, assumir o time olímpico parecia não preocupar, mas tudo mudou. O técnico passou a ser cobrado pela péssima campanha nas eliminatórias do Mundial.

Agora tornou-se imprescindível ajustá-la para a Copa América Centenário, em junho, nos EUA, um evento meramente comemorativo. Essa mudança passou tensão para os planos do desafio do inédito ouro olímpico, em casa, em agosto.

Um fracasso na Copa América aumentará as cobranças. Ainda bem que as eliminatórias só terão sequência após os Jogos do Rio. O trabalho do técnico precisa ser revisto.


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