Folha de S. Paulo


O tormento olímpico

A seleção principal do Brasil tem patinado em momentos importantes nas eliminatórias da Copa, mas o Paraguai, rival desta noite, não é nenhum bicho-papão. Além disso, a competição tem muito chão pela frente, e a Copa do Mundo só vai acontecer em 2018.

A grande preocupação do técnico Dunga, na verdade, começa ao término da partida. É quando ele assume de fato as responsabilidades pela seleção olímpica, que tem pela frente o desafio de conquistar a primeira medalha de ouro, a única presa importante que falta na galeria dos sucessos do futebol brasileiro.

Jogando em casa, e com os fantasmas na memória do torcedor da derrota na final da Copa de 1950 diante do Uruguai e dos 7 a 1 diante da Alemanha no Mundial do ano retrasado, o peso da Olimpíada cresce assustadoramente.

Dunga conhece bem o evento. Foi medalha de prata como jogador em Los Angeles-1984 e de bronze como técnico em Pequim-2008, campanha que antecedeu seu fracasso na direção do time principal dois anos depois na Copa da África do Sul.

É curioso, no entanto, rememorar que outros dois treinadores que assumiram papel semelhante –Vanderlei Luxemburgo, em Sydney-2000, e Mano Menezes, em Londres-2012– perderam seus cargos no time principal após fracasso na tentativa de chegar ao ouro olímpico.

Esse parece ser o grande risco de Dunga, que tem ampliada a importância da sua tarefa olímpica, bem maior do que as daqueles antecessores, pelo fato de jogar em casa, com o apoio da torcida.

Quando Dunga assumiu a seleção principal em 2014, depois do fracasso na Copa do Mundo sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o time olímpico ficou a cargo de Alexandre Gallo.

Os planos pareciam bem encaminhados, apesar da sequência de escândalos de corrupção envolvendo os dirigentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Entretanto, por divergências entre as visões de trabalho de Gallo e do coordenador de seleções, Gilmar Rinaldi (ex-goleiro e ex-agente de jogadores), toda a programação foi alterada.

Gallo, que era o único remanescente da fase Scolari, acabou afastado em maio passado, depois de 27 meses de trabalho com as seleções sub-20 e olímpica. Dunga abraçou também a equipe para os Jogos do Rio.

Como o time principal tinha pela frente partidas das eliminatórias, Dunga deixou o interino Rogério Micale cuidando da seleção olímpica. Agora, com uma pausa nas eliminatórias, o técnico passa a trabalhar exclusivamente com os jogadores olímpicos.

Micale despediu-se do comando da equipe nos últimos dias em meros amistosos no Brasil. Perdeu para a Nigéria por 1 a 0 e ganhou da África do Sul por 3 a 1, adversários que estão classificados para os Jogos Olímpicos.

O México, que derrotou o Brasil na última final olímpica, em Londres, também carimbou seu passaporte para o Rio. Os outros classificados são: Coréia do Sul, Fiji, Honduras, Argentina, Portugal, Alemanha, Argélia, Iraque, Japão, Dinamarca e Suécia, além do Brasil.

A última vaga vai ser decidida nesta terça, quando os Estados Unidos, em casa, enfrentam a Colômbia, após empate em 1 a 1 no jogo de ida. São todos rivais que merecem respeito, mas que não assustam. Será assim mesmo?


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