Folha de S. Paulo


Olimpíada é desafio para trio mais pop dos esportes coletivos

Os Jogos Olímpicos do Rio representam a oportunidade para que os três esportes coletivos mais populares do país –futebol, basquete e vôlei–, arranhados por denúncias de desmandos e suspeitas de corrupção, deem uma volta por cima.

Em inúmeras ocasiões, a performance internacional premiou o trio com muito prestígio diante dos esportistas brasileiros. Nos últimos tempos, no entanto, as respectivas confederações nacionais desses esportes se viram diante de denúncias de irregularidades com envolvimento de dirigentes ou administração de baixa qualidade e pouca transparência.

O caso mais escandaloso é o do futebol, cuja cartolagem virou tema de enredos mirabolantes de trapaças, apropriação indevida de altas somas de dinheiro, fraudes financeiras, extorsão e lavagem de dinheiro.

Uma novela de crimes. O ex-presidente da CBF José Maria Marin foi colocado no xilindró quando saiu do Brasil para reunião da Fifa, na Suíça. Precavido, Marco Polo Del Nero, mandatário licenciado da confederação, deixou de viajar, mesmo com a seleção.

Outros cartolas, como João Havelange e Ricardo Teixeira, já haviam sido desmascarados. J. Hávila, empresário e ex-jornalista, envolvido em tramoias futebolísticas com suas duas empresas, a Traffic Internacional e a Traffic USA, defende-se como delator de parcerias e com a devolução de fortuna ganha indevidamente.

Uma vergonha sem precedentes. O basquete e o vôlei também passaram por vexames, embora mais restritos e no âmbito nacional, porém não menos constrangedores.

O Banco do Brasil chegou a suspender –depois reassumiu– o contrato de patrocínio que mantinha com a CBV havia 23 anos, após relatório da Controladoria-Geral da União comprovar irregularidades na gestão do dinheiro público.

O encanto pela fama de competente do vôlei, que seria o exemplo a ser seguido pelos demais esportes, foi para o buraco, apesar do seu cartel de 20 medalhas olímpicas. Em entrevistas, atletas da modalidade manifestaram revolta com a situação de descalabro e usaram nariz de palhaço antes de jogos.

Na semana passada, como se fosse um rescaldo daquela crise, o BB solicitou esclarecimentos à CBV sobre o fato de a entidade ter contratado um funcionário que foi processado por desvio de verba pública. Evidência de que a crise deixou marcas e de que o patrocinador ficou arrepiado e temeroso.

O basquete juntou péssimas administrações, gastos exorbitantes –grande parte de verba pública– e fracassos em competições internacionais. Analisando balanço da entidade, um especialista concluiu que se a CBB fosse uma empresa privada estaria em situação falimentar.

As seleções nacionais da modalidade tropeçaram nos principais torneios mundiais. A masculina foi a Londres-12, onde terminou em quinto, depois de ficar fora das três Olimpíadas anteriores. Na sequência, voltou a dar um passo atrás. Só foi ao Mundial passado pagando por um "convite", fruto da incompetência para garantir vaga em evento para tal fim.

O feminino, em Londres, não passou da etapa classificatória. Agora, desperdiça parte do tempo para entrosar o time que vai jogar a Olimpíada. A prova disso é que participa do evento-teste dos Jogos, no Rio, a partir da próxima sexta (15), com uma equipe improvisada porque os principais clubes se recusaram a ceder jogadoras, algo incompreensível.

As situações embaraçosas mancharam a trinca de esportes. De todo modo, no campo de jogo, essas modalidades têm potencial para protagonismo em qualquer evento mundial, mais ainda jogando em casa. Nesse contexto, a Olimpíada é ou não uma oportunidade excepcional para reabilitação diante dos torcedores?


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