Folha de S. Paulo


Caixinha de surpresa existe, de fato, no futebol olímpico

Não é incomum o futebol surpreender torcedores. A derrota de um favorito até motivou a criação do clichê "o futebol é uma caixinha de surpresa".

Segundo o "Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa", do jornalista Marcelo Duarte, a definição foi inventada pelo comentarista Benjamin Wright, pai do ex-árbitro José Roberto Wright.

Já escrevi neste espaço que a "caixinha de surpresa" era muito usada tempos atrás no mundo do futebol tupiniquim, uma evidência que favoritismo não era seguro contra derrota. Usá-la era como subir no muro. Nada definia, apenas colocava uma incerteza no ar.

Em qualquer encontro de esportistas, especialmente nos empolgantes debates de botequins, todos recorriam à tal caixinha entre um e outro trago, alguns até procurando evidenciar certo ar de sabedoria.

Nas redações de jornais, por nada significar e pela ausência de subjetividade, a caixinha de surpresa foi praticamente banida nas editorias de esporte. Passou a ser encarada como antijornalismo, como deixar o leitor num túnel escuro, sem qualquer esperança de luz.

Uma olhadela na tábua de campeões do torneio masculino de futebol da Olimpíada, porém, é suficiente para descobrir que a tal caixinha de surpresa lá existe de fato.

Nas últimas cinco décadas, apenas as seleções da Hungria (em 1964 e 1968) e da Argentina (em 2004 e 2008) arrebataram o título mais de uma vez. Outras dez seleções ganharam ouro no período, inclusive a extinta URSS, que havia chegado ao título anteriormente, em 1956. As medalhas de prata e bronze também apontam países que eram pouco cotados para o pódio.

As maiores surpresas foram os títulos da Nigéria (nas semifinais superou o Brasil do técnico Zagallo e estrelas como Roberto Carlos, Bebeto, Rivaldo e Ronaldo), em Atlanta-1996, e de Camarões (nas quartas eliminou o Brasil do técnico Wanderley Luxemburgo e estrelas como Ronaldinho Gaúcho, Lúcio e Alex), em Sydney-2000.

Esta derrota foi a gota d'água para a queda de Luxemburgo da seleção principal. O técnico à época era acusado de sonegação fiscal, adulteração de documentos e de participação financeira na venda de jogadores.

Na última Olimpíada, em Londres-12, a simples derrota do Brasil na final diante do México serviu de pretexto para o afastamento do técnico Mano Menezes, responsável pelas seleções olímpica e principal.

O técnico Dunga vai comandar o time olímpico do Brasil no Rio. Ele dirigiu a equipe medalha de bronze em Pequim-2008. A seleção nacional nunca chegou ao título. Estreou no evento em Helsinque-1952 e acumula três pratas e dois bronzes.

Neymar é nome certo na equipe que tentará o primeiro ouro, com a aparente vantagem de jogar em casa. O futebol olímpico permite apenas três jogadores com idade superior a 23 anos. Na verdade, o fato de atuar diante de seus torcedores não parece ser um fator de desequilíbrio, como se imagina a princípio. Basta recordar o retumbante fracasso na Copa do Mundo, ano passado, quando a seleção deu vexame diante da Alemanha, em Belo Horizonte.

O torneio olímpico masculino é disputado por 16 times. Doze estão definidos: Brasil, México, Honduras, Argentina, Alemanha, Dinamarca, Portugal, Suécia, Fiji, Argélia, Nigéria e África do Sul. EUA e Colômbia se enfrentam pela derradeira vaga na repescagem das Américas. Três representantes da Ásia completarão o quadro. Dá para apontar um favorito?


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