Folha de S. Paulo


COB vai explorar vantagens de casa nos Jogos Olímpicos

Coincidência ou não, na Olimpíada, a delegação da casa sempre vê crescer o seu total de medalhas em relação aos Jogos anteriores. Por isso, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) decidiu explorar essa área da forma mais pertinente possível na Rio-2016.

Reportagem de Guilherme Costa, publicada no UOL, no último dia 1º., revelou detalhes dessa estratégia, baseada em projeto adotado pelos britânicos, que saltaram de 47 medalhas em Pequim-08 para 65 em Londres-12.

O "home advantage" ("vantagem em casa"), como os britânicos se referem ao projeto, contempla situações possíveis de ganhos por atuar em seu próprio domínio.

No geral, a ideia envolve a preocupação com o aspecto psicológico dos atletas para neutralizar as pressões de jogar em casa, em frente da própria torcida, como as que provocaram choradeiras emocionais e a decepção da seleção na Copa. Visa ainda respaldar o atleta diante da forte presença da imprensa, no contato com familiares e em outros fatores locais.

Um ponto curioso, que pode provocar reflexões controvertidas, é a proposta de tirar proveito de circunstâncias da arbitragem. Tudo sem arranhar os regulamentos, no jogo limpo, nada de levar vantagem por inversão de apito.

A proposta do COB é levantar informações sobre árbitros, suas carreiras e respectivas escolas para determinar essas sutilezas. Dessa forma, o atleta brasileiro terá a chance de ser alertado sobre como agir durante a competição. Parece pouco, mas os detalhes costumam decidir disputas no alto rendimento.

Um juiz europeu pode estar acostumado a interpretar um contato corporal de forma diferente em relação a um colega das Américas ou oriental. Tanto faz se no basquete, no judô, no boxe ou qualquer outra modalidade.

No futebol, diferentes posturas de arbitragem são constatadas até num mesmo campeonato. É o caso da lei da vantagem, entre outras, adotada sem pestanejar por alguns árbitros, sendo que vários juízes vacilam na sua aplicação.

A hipótese de que uma das partes em confronto conte com privilégio em lances que dependem de interpretação da arbitragem, é mais conhecida nos meios esportivos do país pelas expressões "apito amigo" ou "arbitragem caseira".

Questionamentos contra esse tipo de postura são corriqueiros em competições. Brotam como ervas em todos os cantos, em todos os esportes, o tempo todo. A proposta do COB tem outro alcance, pretende tirar vantagem do conhecimento sobre a maneira de o árbitro atuar.

Há ainda modalidades com novos regulamentos. No boxe, por exemplo, não mais ocorrerão casos como os registrados em Londres, quando lutas tiveram resultados mudados após pedido de revisão dos combates. Simplesmente porque foram extintas as chances de revisão.

Em debates na mídia ou mesmo em triviais discussões de botequim, o futebol, o esporte predominante no Brasil, costuma ter na pauta suspeitas do silvo de arbitragem amiga. Elas soam mais como ironia, em tom de favorecimento, com o objetivo de irritar os rivais.

O Flamengo, no Rio, e o Corinthians, em São Paulo, são os alvos costumeiros de bravatas sobre times que levam vantagens com esse expediente. Talvez atraiam olhos mais críticos dos adversários por serem os clubes com as maiores torcidas do Brasil.

O COB já trabalha com as suas confederações na implementação dessas estratégias para a Olimpíada do Rio, ano que vem. São levantadas informações sobre atores e bastidores mundiais dos esportes. Uma incumbência que está a cargo da cartolagem e dos treinadores.

É mais ou menos rotineiro o perdedor chiar e protestar contra a arbitragem, muitas vezes até coberto de razão. Pelos rumos dos preparativos, no entanto, parece que a delegação do Brasil vai estar na contramão dessa sina dos derrotados.

Não que vá ganhar tudo. É que o esquema da vantagem em casa não garante vitória, mas pode destruir os argumentos de perdedores.


Endereço da página: