Folha de S. Paulo


Verba carimbada é saída para legado olímpico?

Aos trancos, com alguns tropeços, sendo a poluição de águas o de maior repercussão, o Rio de Janeiro supera barreiras rumo ao desafiador ano de 2016. A meta é deixar a cidade em ordem, preparada e equipada para a Olimpíada e Paraolimpíada, no início do segundo semestre do ano que vem.

Ninguém tem dúvida sobre a complexidade de obstáculos e dificuldades, especialmente de ordem econômica, para organização de um grande evento internacional, como é o caso. Mas tal embaraço vai ser superado, em que pese o alto custo pago por ele, com as estimativas orçamentárias já superando a casa dos R$ 38 bilhões.

Essa salgada conta, no entanto, que muda a cada nova atualização, como apontado aqui anteriormente, sempre para mais, nunca para menos, não surpreende, embora cause arrepios e seja motivo de questionamentos justos de contribuintes.

O país, de livre e espontânea iniciativa, reivindicou a organização dos Jogos. Assumiu um compromisso com a comunidade internacional, ou seja, com o COI, que hoje reúne outras 205 entidades nacionais.

O comitê organizador e os governos da União e do Rio gastam uma fortuna na construção de centros de esportes e vão realizar os Jogos, conforme o prometido. Tudo mais ou menos dentro dos planos. A dúvida é o que virá após os Jogos. Qual a destinação daqueles centros e quem arcará com as despesas gerais para funcionamento dos mesmos?

Os custos de manutenção de centros de esportes, ginásios e instalações esportivas em geral são altos e nunca cessam. Dessa forma, paradoxalmente, concluir uma obra olímpica significa também "arrumar sarna para se coçar", como reza ditado popular.

Uma opção seria o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e os governos do Rio –municipal e estadual– assumirem essas despesas. A Prefeitura carioca tem intenção de aproveitar espaços olímpicos para centros de treinamento, eventos e projetos sociais.

Em alguns casos, as confederações esportivas poderiam participar das gestões, dependendo da disponibilidade financeira e da possibilidade de uso permanente do local pela modalidade interessada.

O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) tem projeto pioneiro nessa direção. Pelo menos foi o que anunciou o presidente da entidade, Andrew Parsons, em reportagens nesta Folha.

O cartola revelou que o CPB planeja bancar o gerenciamento do centro nacional paraolímpico, que está sendo construído às margens da rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. A obra –com previsão de custo superior R$ 264 milhões, divididos entre Ministério do Esporte e o governo do Estado de São Paulo–, tem sua conclusão prevista para novembro.

Estima-se entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões por ano as despesas de manutenção e gerenciamento do centro, que prevê suporte para 14 modalidades paraolímpicas.

Parsons viu a solução na Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em julho, e que aumenta de 2% para 2,7% o percentual da arrecadação bruta das loterias federais que deve ser destinado ao esporte.

Solução simples e direta, utilização de dinheiro carimbado para investimento no esporte. O mesmo raciocínio, parece lógico, pode ser empregado no legado olímpico, uma vez que o COB e as confederações recebem robustas verbas governamentais.

Esse é o desafio que está posto. Definir políticas de gestão das praças olímpicas, fulminando com qualquer possibilidade de surgimento de elefantes brancos.


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