Folha de S. Paulo


Queimando a largada

Os Jogos Olímpicos do Rio, ano que vem, vão contar com disputas acirradas, a julgar pelas performances nos recém-encerrados Mundiais de atletismo, natação e judô, esportes com repercussão e prestígio.

A rigor, com pequenas exceções pontuais, tais campeonatos não apresentaram surpresas nesta temporada pré-olímpica, restando menos de um ano para a abertura dos Jogos. Registraram embates emocionantes, como era previsível, nada excepcional, porém.

Pela tradição e pela diversidade de atrações, a Olimpíada é o principal palco de exposição do esporte, aquele com o qual todos os atletas sonham. Reproduz, simultaneamente, grandes eventos internacionais de esporte, mas sem funcionar como simples carbono dos mesmos. Conta com um clima envolvente e cativante.

Como organizador da Olimpíada, o Brasil tem a responsabilidade de fazer um bom papel na competição. As representações nacionais, no entanto, parecem longe disso. Patinaram nos três Mundiais citados, que funcionaram como alarme, deixando os torcedores com um pé atrás. Entretanto, a frustração não significa que o Brasil, automaticamente, vai decepcionar também nos Jogos do Rio.

As experiências fracassadas permitem correções e ajustes nos times nacionais, se eles vinham mesmo tendo a preparação adequada como previsto pelo Comitê Olímpico do Brasil. A entidade, responsável por toda a equipe nacional nos Jogos, estima que a delegação atingirá a marca recorde de 27 a 30 medalhas.

A natação terminou o Mundial de Kazan com quatro medalhas (três de pratas e uma de bronze) e desfalcada da sua principal estrela, Cesar Cielo, que retirou-se no meio da competição, atitude justificada como consequência de contusão.

No Mundial anterior, em 2013, Cielo havia arrebatado dois ouros (50 m borboleta e 50 m livre), e seus companheiros três bronzes. Desta vez os cartolas elogiaram o fato de os brasileiros terem alcançado 12 finais, duas a mais. E também pelos três pódios (ouro, prata e bronze) obtidos na maratona aquática. Em contrapartida, os revezamentos 4 x 200 m livre masculino e o 4 x 100 m medley feminino fracassaram na tentativa de garantir vaga nos Jogos.

No Mundial de atletismo, no estádio Ninho de Pássaro, em Pequim, ocorreu um fato novo: a perda da hegemonia dos EUA no topo do quadro de classificação pelo critério de conquistas de medalhas de ouro. Com sete cada, Quênia e Jamaica superaram os EUA, que terminaram com seis. Os quenianos ficaram em primeiro no desempate pelas medalhas de prata (6 a 2).

Destaques há tempos em competições longas, de fundo, os quenianos também sobressaíram em provas de meio-fundo, como nos 1.500 m, na qual conquistaram ouro e prata.

A seleção brasileira, por sua vez, foi salva por Fabiana Murer do vexame de voltar sem qualquer conquista. Ela ficou com a prata no salto com vara, superada pela rival cubana Yarisley Silva, com a marca de 4.90 m, vitoriosa por cinco centímetros de diferença.

Murer, a primeira brasileira a conquistar um ouro no Mundial de atletismo –em Daegu, na Coréia do Sul, em 2011– é nome cotado para o pódio no Rio. Ela tem regularidade, e vem se mantendo entre as melhores do mundo há vários anos . Outro pódio com brasileiro no atletismo vai ser surpresa.

No Mundial de judô, em Astana, no Cazaquistão, os japoneses ratificaram sua força. Arrebataram 17 medalhas, seis a mais do que no ano passado –na modalidade, o torneio é disputado anualmente.

O desempenho dos brasileiros foi bem diferente, decepcionante. Ganharam apenas dois bronzes, com Érika Miranda e Victor Penalber. A fraca campanha deixa a cartolagem nacional, da modalidade e do COB, com as orelhas em pé. Por quê?

As projeções dos dirigentes brasileiros colocam o judô como o carro-chefe na projeção de medalhas na Olimpíada. Cinco pódios eram a meta em Astana, um a mais do que no Mundial de Cheliabinsk, no ano passado. Por isso a campanha pode ser considerada um retumbante fracasso. Em julho, a seleção já havia ficado aquém das previsões no Pan de Toronto.

Os Mundiais continuam relevantes, mas são mais rotineiros, perdendo o glamour e a expectativa que despontam durante os quatro anos entre uma Olimpíada e outra.

Artifícios e truques ficam camuflados, em segredo, antes de grandes acontecimentos. Portanto, a imaginação leva a crer que os protagonistas dos 28 esportes dos Jogos do Rio estão afiando suas garras, como feras se preparando para o bote implacável.


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