Folha de S. Paulo


Desafios pré e pós Olimpíada

A Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional para os Jogos de 2016 realiza sua nona visita oficial com o objetivo de conferir o andamento dos preparativos do Rio, a doze meses da solenidade de abertura.

Levando-se em conta declarações recentes dos dirigentes daquela entidade, apesar da preocupação com o cumprimento dos prazos, fato que se tornou rotineiro em qualquer Olimpíada, a expectativa é a de que no final o conjunto da obra estará apropriado, sem risco para a realização do evento.

Avaliação que não deixa de ser intrigante por estar permeada de dúvidas e carente de transparência em questões sensíveis, como o anúncio agendado, sem atrasos, da estimativa atualizada dos gastos.

Por enquanto, a impossibilidade de despoluição em tempo hábil das águas da Baía de Guanabara e da lagoa Rodrigo de Freitas, onde ocorrerão competições, continua sendo outro ponto dramático. Isso sem que os organizadores encontrem justificativa diante da possibilidade de fracasso no compromisso assumido no dossiê da candidatura para os Jogos.

Há outros aspectos da organização que continuam sob uma névoa. A matriz de responsabilidades definiu 42 projetos dos 56 voltados aos Jogos. Como ficaram os outros 14? Quanto cada um deles vai custar?

Com números divulgados em janeiro, a previsão de gastos dos Jogos está desatualizada. A diferença pode até ser pequena. Naquela oportunidade, com projetos esportivos e de legado, atingiu R$ 38,2 bilhões. A Autoridade Pública Olímpica adiou a divulgação dos novos números, o que deve ocorrer em breve.

Sem perder a essência dos preparativos e dos valores que envolvem essa fase pré-Jogos, a definição da etapa pós-Olimpíada patina no planejamento de medidas a serem adotadas no ano que vem ou logo depois. Quem vai se responsabilizar pela utilização, funcionamento e custeio das praças olímpicas a partir do término dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos?

São pontos essenciais para que as construções olímpicas não se transformem em elefantes-brancos, como parece ser o futuro de alguns estádios da Copa do Mundo de Futebol, disputada no ano passado.

Um alerta sobre problemas dessa natureza foi dado pelo sociólogo americano Richard Sennett, 72, em entrevista ao correspondente da Folha em Londres, Leandro Colon, e publicada na última segunda (10). Segundo ele, as instalações dos Jogos precisam ser utilizadas imediatamente após o evento, pois com uma espera de cinco, seis anos, elas começam a se degradar.

Sennett, que integra a comissão de reorganização urbana de Atenas (ONU / Conferência Habitat 3) e que trabalhou na organização dos Jogos de Londres, destacou que a intenção dos ingleses era evitar o que ocorreu com a Grécia, onde, após os Jogos-2004, várias arenas foram abandonadas.

Vale ressaltar ser ainda um pouco cedo para um balanço mais realista sobre ganhos e perdas de Londres com os Jogos lá realizados há apenas três anos. O que não é o caso de Atenas.

Já a China, passados sete anos do evento, registra uma mancha negativa que sobressai entre suas demais obras olímpicas: a do Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido como Ninho de Pássaro. O local é usado raramente, cerca de cinco vezes ao ano. Desperdício incompreensível para uma obra cuja construção consumiu aproximadamente US$ 430 milhões.

A Prefeitura do Rio desistiu de esperar por manifestações dos governos federal e estadual para o encaminhamento de projetos de legado. Decidiu recentemente anunciar sua intenção de utilizar espaços da Olimpíada. A ideia é criar centros de treinamento, locais para eventos e projetos sociais.

Falta saber como os planos se tornarão viáveis economicamente, o principal obstáculo. Eles só sairão do papel com ações articuladas e inteligentes, levando-se em conta a crise que a economia nacional atravessa. Por isso, no momento, encontrar fonte de recursos para tais finalidades é como procurar agulha num palheiro.


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