Folha de S. Paulo


O Pan, mais atrativo e menos relevante

Os Jogos Pan-Americanos, uma espécie de Olimpíada das Américas, já não desfrutam da mesma importância de tempos atrás tanto esportivamente como politicamente, embora o número de participantes seja expressivo e, com o interesse da TV, conte com divulgação mais abrangente.

A Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) foi criada em 1948. Acabou incentivada pelos Estados Unidos no período da Guerra Fria, o embate com a ex-URSS e seus aliados. Servia como forma de interação dos países do continente.

Os Jogos Pan-Americanos inaugurais aconteceram em 1951, em Buenos Aires. Trata-se de competição poliesportiva realizada a cada quatro anos, sempre na temporada que antecede a dos Jogos Olímpicos.

No momento, as equipes arrumam as malas para as disputas que estão com a festa de abertura programada para 10 de julho próximo, em Toronto, no Canadá. O evento, tendo as competições esportivas como atração, é um congraçamento de 41 países das Américas.

Tempos atrás chegava a ser utilizado para avaliação de atletas e equipes com vistas aos Jogos Olímpicos, no ano seguinte. Ainda hoje alguns dos participantes recorrem a esse expediente. Mas outros eventos, como campeonato mundiais, têm lastro maior para conclusões mais precisas e realistas.

A natação do Brasil vai ao Pan, e logo a seguir tem o Mundial. Qual dessas disputas é mais importante para o planejamento olímpico com vistas a 2016? O Mundial feminino de futebol está em andamento, a seguir vem o Pan, uma situação esdrúxula sendo os Jogos do ano que vem a principal meta. Enfim, a competição vale mesmo para aqueles esportes que ainda buscam vaga na Olimpíada.

É o caso do hóquei sobre grama masculino, esporte pouco praticado e divulgado no Brasil. A seleção precisa garantir pelo menos o sexto posto em Toronto para conquistar o direito de participar dos jogos do Rio.

Esse tipo de evento multidisciplinar costuma ser um grande atrativo para a TV, com corriqueiras pinceladas de ufanismo que cativam a atenção dos telespectadores. É uma espécie de competição na qual os brasileiros sempre despontam entre os candidatos ao pódio.

Na condição de país-sede da Olimpíada, o Brasil tem participação assegurada na maioria dos 28 esportes dos Jogos em 2016. Em Toronto, correrá atrás de vagas em apenas seis modalidades.

O hóquei já foi citado. Os demais esportes oferecem dois tipos de atração: vagas diretas de classificação para a Olimpíada ou pontuação válida para o ranking da modalidade, que classifica para o Rio. O pentatlo, o tiro, triatlo, o atletismo e o taekwondo estão nesse grupo.

Além dessas situações, o calendário anual está carregado. São cerca de três dezenas de mundiais programados nesta temporada e tem ainda o pacote de eventos-teste, entre julho e dezembro, de 21 modalidades para a avaliação das arenas e da logística para a Olimpíada e Paraolimpíada.

O Comitê Olímpico do Brasil planeja levar para Toronto a maior delegação esportiva que já deixou o país, com cerca de 600 atletas, só inferior ao Pan do Rio-2007, em casa, quando contou com 660 atletas. Quatro anos depois, em Guadalajara, foram 515.

A meta é o terceiro lugar, mas superando o número de pódios de 2011 (141 - 48 de ouro, 35 de prata e 58 de bronze). Lá, os EUA ganharam 92 medalhas de ouro e totalizaram 236; e Cuba, somou 136, 58 de ouro, que é a referência para a classificação.

O Brasil promoveu o Pan em São Paulo-1963 e no Rio-2007. Para o Canadá o evento também não é novidade, pois é a terceira vez que o organiza: os dois primeiros aconteceram em Winnipeg, em 1967 e em 1999, e agora em Toronto.

Este Pan terá uma ausência marcante em relação aos das últimas quatro décadas, porque não vai contar com a presença do mexicano Mário Vázquez Raña, 82, morto em fevereiro passado. Ele era o presidente da Odepa desde 1975. O uruguaio Julio Maglione, 79, foi eleito para comandar a entidade até o ano que vem. Provavelmente, ele é quem anunciará a abertura dos Jogos.

Raña, um praticante de tiro esportivo, exerceu poder em várias áreas –dirigiu a agência de notícias UPI e foi proprietário da Organização Editorial Mexicana, com seus 70 jornais e 24 estações de rádio.

Simultaneamente assumiu postos no esporte, com gestões longevas. Comandou a Odepa, o Comitê Olímpico do seu país, a presidência da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais –de 1979 a 2012, que reúne cerca de duas centenas de representações– e foi membro do COI.

Foi muito ligado a Juan Antonio Samaranch (presidiu o COI de 1980 a 2001), ao italiano Primo Nebiolo (presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo de 1981 a 1999) e ao brasileiro João Havelange (presidente da Fifa de 1974 a 1998). Apenas este último continua vivo, mas afastado do esporte por motivos de saúde e do envolvimento de seu nome em casos de corrupção no futebol.

Apesar das fortes relações com esse trio poderoso e influente no movimento olímpico internacional, Raña não teve realizado seu grande sonho, o de incluir a língua espanhola entre as oficiais do COI.

No Canadá, existem 11 grupos de línguas aborígenes, com mais de 65 dialetos distintos. Apesar disso, o inglês e o francês são os idiomas oficiais. Coincidentemente, os únicos adotados oficialmente pelo COI. Mas, no campo de jogo, valem as regras e o que manda é o apito do juiz.


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