Folha de S. Paulo


A Olimpíada faltando apenas 500 dias

Eram cerca de 2.500 dias quando, em outubro de 2009, o Brasil reivindicou e foi contemplado com o direito de organizar a Olimpíada de 2016, a primeira na América do Sul. Assumiu, mais do que um simples desafio, uma façanha. Hoje, restando apenas os decisivos 500 dias para a abertura dos Jogos, cresce a cada momento a pressão sobre os governos e o comitê organizador, responsáveis pela preparação do evento.

A realização da Olimpíada, porém, é uma certeza. Apenas persistem, ao menos para os mais céticos, incertezas sobre as condições do evento. Será bagunçado, com construções inacabadas? Ou organizado?

Embora o Rio de Janeiro, no momento, seja palco de um grande canteiro de obras, o bom senso e o histórico de Jogos anteriores apontam para uma grande festa do esporte mundial em agosto do ano que vem. Algumas imperfeições, possíveis e prováveis, não devem tirar o brilho do evento.

Os problemas são outros. A Copa do Mundo de futebol é o exemplo para o bem e para o mal, de um grande evento internacional no Brasil. Apesar do humilhante 7 a 1, foi um sucesso, divulgou o país, mas deixou dívidas e estádios deficitários. E, ainda por cima, só a Fifa levou vantagem: a entidade embolsou cerca de US$ 5 bilhões, um recorde.

A Olimpíada tinha previsão orçamentária perto de R$ 38 bilhões até pouco tempo atrás, da qual grande parte, que envolve infraestrutura da cidade, deve sair dos cofres públicos, ou seja, do bolso do contribuinte. Com a instabilidade econômica e a alta do dólar apertando o país a cada dia, essa conta já deve estar bem mais salgada, e a tendência parece indicar para um cenário pior em breve.

A divulgação das atualizações da previsão do orçamento é feita pela APO (Autoridade Pública Olímpica), consórcio criado para fiscalizar e trabalhar em busca de harmonia entre União e governos estadual e municipal do Rio de Janeiro, nos preparativos para os Jogos.

Uma organização importante para o processo dos preparativos olímpicos, mas que está sem presidente, sob o comando de um interino, desde que o general Fernando Azevedo e Silva pediu demissão há mais de um mês e o governo federal não conseguiu indicar um substituto.

Os preparativos seguem com altos e baixos, e o registro lamentável de que não ocorrerá a anunciada despoluição do esgoto despejado nas águas da Baía da Guanabara, local das competições de vela.

Até o prefeito do Rio, Eduardo Paes, já admite essa oportunidade perdida pela cidade, uma vez que a Olimpíada tem acelerado a implantação de projetos no município que, sem ela, demandariam muitos anos.

Além da possível alta dos custos, sempre preocupantes quando obras precisam ser concluídas dentro de prazo, duas outras questões chamaram a atenção nos últimos dias: golpe de venda de ingressos e ameaça à segurança.

A venda de ingressos está programada para começar a partir do próximo dia 31, exclusivamente pelo comitê organizador. Entretanto, foram registrados golpes de vendas antecipadas.

Quanto à segurança, matéria de Eliane Cantanhêde e de Andreza Matais, no jornal "O Estado de S.Paulo", revelou que setores da inteligência do governo brasileiro detectaram tentativas de cooptação de jovens no País pelo Estado Islâmico, supostamente um fator de risco de atentados terroristas. O governo brasileiro disse desconhecer relatório de inteligência sobre o EI e que segurança é debatida no âmbito da prevenção.

A Olimpíada envolve representações de 205 comitês olímpicos nacionais, o que torna prioritárias questões relacionadas à segurança, independentemente de o Brasil não ter histórico de terrorismo.

No plano meramente esportivo, o Comitê Olímpico do Brasil segue com o meta de terminar entre os dez países com maior número de medalhas. Em Londres, o time somou 17 –três de ouro, cinco de prata e nove de bronze– e ocupou a 16a. colocação. Já pelo critério tradicional, que leva em conta somente o ouro, os brasileiros ficaram em 22.o lugar.

No ciclo olímpico atual, preparatório para as disputas no Rio, repatriou atletas e buscou técnicos estrangeiros. A ideia é atingir de 27 a 30 medalhas. Tarefa complicada. Tão desafiadora como será pagar a conta da grande festa.


Endereço da página: