Folha de S. Paulo


Medidas do COI criam espaço para homenagear mortos

Na última Olimpíada, em Londres-12, o Comitê Olímpico Internacional passou por um momento sensível e delicado, que acabou superado, mas só depois de ter causado muita polêmica e apreensão.

Ocorreu quando uma pressão, provocada principalmente por israelenses, exigia que fosse feita durante a abertura dos Jogos uma homenagem aos 11 mortos de Israel no atentado terrorista da Olimpíada de Munique, em 1972, que completava 40 anos. A situação acabou contornada com um ato durante a cerimônia de hasteamento de bandeiras na Vila Olímpica de Londres. Foi pouco.
Na presença de cerca de 100 dirigentes de Comitês Olímpicos Nacionais, o então presidente do COI, o belga Jacques Rogge, pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas daquele pavoroso episódio, que ficou conhecido como o Massacre de Munique. Nele perderam a vida ainda um policial e cinco palestinos do grupo Setembro Negro, responsável pelo atentado.

Embora o caso de Munique tenha sido o mais emblemático, outros episódios de luto cutucaram o COI recentemente. Ano passado, nos Jogos de Inverno de Sochi, atletas noruegueses foram advertidos por usar braçadeiras pretas em memória do irmão de um companheiro de delegação. E esquiadores não puderam usar adesivos em seus capacetes em homenagem à canadense Sarah Burke, morta após acidente num exercício em 2012.

Numa tentativa de superar impasses de tal natureza, o COI tratou de discutir o problema, buscar alternativas e antecipar respostas. Parece ter encontrado. Tanto que solicitou à organização da Olimpíada do Rio que seja preparado dentro da Vila Olímpica um memorial para orar por mortos, uma instalação temporária que não constava do projeto inicial.

A ordem foi dada pelo comando da entidade durante a visita de inspeção das obras olímpicas no Rio, no mês passado. As decisões ainda carecem de detalhes. O local de orações servirá também para o uso de atletas que perdem parentes em seus países, em tragédias e em guerras, embora haja na Vila templos religiosos variados.

Pressionado a encontrar soluções sobre a questão pelos acontecimentos que se sucedem a cada competição, o comitê não parou por aí. Sentiu-se compelido a adotar outra inédita medida de homenagem póstuma, a de um momento de reflexão na cerimônia de encerramento dos Jogos a atletas que morreram durante qualquer edição das Olimpíadas.

No episódio de Munique, após o culto ecumênico e uma curtíssima suspensão das atividades olímpicas, os Jogos tiveram sequência. Prevaleceu a postura de não se curvar diante do terrorismo. Houve quem discordasse.

Os esportistas mortos, no entanto nunca foram esquecidos nestas quatro décadas. Agora, a partir do Rio, eles vão ser ainda mais lembrados em todas as Vilas Olímpicas do futuro. Nunca é demais, nem basta.


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