Folha de S. Paulo


Água poluída atormenta organização da Olimpíada

As águas poluídas da Baía da Guanabara atormentam a organização dos Jogos Olímpicos do Rio, que deixa a impressão de não ter controle sobre a caótica situação. O local será palco das competições de vela. No vai-e-vem dos movimentos do mar, o lixo desafia governantes e o comitê organizador, responsáveis pela Olimpíada.

Mais do que um dos pontos de destaque no maior evento poliesportivo do planeta, o êxito na luta contra a poluição seria um enorme benefício para a população local, em especial, e para o país, como um exemplo sem fronteiras de busca por melhores condições de vida. A cidadania superando a selvageria, a insensatez e o descaso dos sucessivos governos.

Em sua recente visita de fiscalização do andamento das obras para os Jogos, o Comitê Olímpico Internacional evitou críticas públicas sobre a forma ineficiente de combate à poluição das águas, mas deixou claro aos organizadores sua preocupação com o problema.

Embora o tempo seja escasso até a abertura dos Jogos –514 dias–, o governo estadual, responsável pela tarefa da limpeza da baía, novamente promete esforços, como vem fazendo desde que o Rio conquistou o direito de promover o evento, em 2009. Será que desta vez vai cumprir pelo menos parte da promessa?

O compromisso do Estado era de coletar e tratar 80% do esgoto despejado na baía. O governador Luiz Fernando Pezão afirma que atingiu cerca de 49%. Só com milagre atingirá a meta proposta no tempo que resta. Para ajudar na orientação dos dirigentes esportivos, sociedade civil e políticos, ficou decidido que toda quinta-feira haverá uma reunião sobre o andamento dos trabalhos de despoluição.

Ecobarcos para coleta do lixo flutuante ou ecobarreiras instaladas em córregos para evitar que a sujeira chegue na baía? Este método seria mais eficiente, antecipando a solução do problema. Ocorre que as barreiras, segundo o governo estadual, também apresentam contrapartida. Rompem-se com o movimento das marés e passagem de barcos.

Por isso, o governo teria decidido suspender os dois trabalhos, ao menos temporariamente, em busca de aprimoramento. Uma empresa de barcos, no entanto, deu outra versão para a paralisação de seus barcos: estaria sem dinheiro para colocar combustível por causa da falta de pagamento pelo serviço contratado.

Um dia após anunciar a suspensão das atividades dos barcos e barreiras, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, anunciou mudanças no programa de limpeza, com ampliação de equipamentos e número de trabalhadores. O secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, adiantou ainda que o plano agora é fazer um monitoramento do lixo via satélite. Com esse recurso haverá priorização de locais para retirada do entulho.

O mar, uma das incontáveis maravilhas do Rio, e talvez a principal, vira vilão na reta decisiva da Olimpíada. A repercussão negativa do lixo nas águas é o principal motivo. Cientistas do IOC/Fiocruz detectaram, próximo da área demarcada para os Jogos, uma superbactéria, resistente a antibióticos.

Não fossem suficientes esses fatos, a poluição das águas foi alvo de outras cassetadas. As brasileiras Martine Grael e Kahena Kunze, campeãs mundiais, por exemplo, lançaram convite a políticos que quisessem navegar com elas para ver o lixo nas águas. Para completar, as velejadoras britânicas Hannah Mills e Saskia Clark, campeãs mundiais em 2012, não criticaram a sujeira, mas, assaltadas sob ameaça de faca no Rio, viraram destaque na imprensa inglesa.

Na verdade, as autoridades despertaram tarde demais para enfrentar essa batalha olímpica, embora para a população ela não tenha limites. Tão importante como as águas um pouco mais limpas em 2016 é alavancar já, sem a perda de qualquer segundo, o trabalho de despoluição total da Baía da Guanabara.


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