Folha de S. Paulo


Olimpíada já causa inquietação

Uma inquietação já começa a tomar conta da organização dos Jogos Olímpicos do Rio. Nada a ver com o recesso de Carnaval. É natural, provocada pelo andamento dos trabalhos, mais complicados a cada dia com a redução dos prazos para a conclusão das obras.

A Olimpíada está logo ali, com abertura programada para 5 de agosto do ano que vem e muito falta a ser feito. Lembram-se da pré-Copa? Por pouco a cisma de que ia dar tudo errado não se confirmou. E os Jogos exigem mais sofisticação, são poliesportivos, envolvem representações de 205 países, enquanto na Copa eram apenas 32.

A meta de despoluição das águas da Baía da Guanabara, por exemplo, já virou fracasso irremediável, cerca de um ano e meio antes dos Jogos. Sobre a questão, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, adota uma postura informal, nada concreta, afirmando que vai tentar avançar ao máximo na despoluição.

Qual o significado desse posicionamento? Nenhum, ou seja, parece mais sinalizar que o problema vai ser empurrado com a barriga.
Tem muita obra em andamento. Espera-se que Pezão, o prefeito Eduardo Paes, o governo federal e o Comitê Rio 2016, responsável pela organização dos Jogos, sejam mais eficazes na execução dos projetos.

A filosofia da operação dos preparativos, no entanto, aponta para passos de tartaruga. Uma mostra é a vacância na presidência da APO (Autoridade Pública Olímpica), consórcio criado com o objetivo de fiscalizar e integrar as ações da União e governos estadual e municipal no projeto da Olimpíada.

Repete-se a primeira troca no posto, quando o demissionário foi Márcio Fortes, e o cargo ficou vago. Era 2013 e o prazo final assustava menos. Em outubro daquele ano chegou o general Fernando Azevedo e Silva, com o respaldo da presidente Dilma Rousseff.

Tudo parecia normal até surgirem rumores no final de janeiro passado dando conta de que o político Edinho Silva, tesoureiro da campanha da reeleição de Dilma, assumiria a APO. No mesmo período, Azevedo e Silva chegou a afirmar que a sua saída não passava de especulação.

Nesse contexto, no último dia 6, ele encaminhou pedido de demissão à presidente. O general, que ganhou sua quarta estrela, vai para o Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro. A cadeira da direção da APO, por sua vez, segue vazia.

O término do Carnaval e o desembarque de dirigentes do COI no Rio abrem espaço para o aquecimento dos bastidores olímpicos. Os cartolas chegam para reuniões do seu comitê executivo e da Comissão de Coordenação dos Jogos, do dia 26 ao 28.

O presidente da entidade, o alemão Thomaz Bach, é esperado no domingo e sua assessoria tenta agendar um encontro com a presidente Dilma. Só posso imaginar uma conversa sobre liberação de verbas. Será?

Medalha de ouro por equipes no florete, na Olimpíada de Montrèal-76, Bach também vai dar uma palestra para jovens sobre esgrima, e talvez faça um pequena exibição, no Clube Municipal da Tijuca, na semana que vem.

Os cartolas vão analisar relatórios e conferir o andamento das obras para 2016. Discutirão também detalhes para a implementação da Agenda Olímpica 2020, que estabelece normas mais modernas e menos custosas para a organização das futuras Olimpíadas.

Esse momento especial para os Jogos do Rio coincide com as especulações sobre uma possível troca do técnico Alexandre Gallo no comando da seleção olímpica de futebol.

Dunga, da seleção principal, pode acumular os cargos, repetindo sua passagem anterior pela CBF, embora ele próprio não confirme. Naquela oportunidade, o Brasil acabou eliminado em Pequim-2008, terminando com bronze, e fracassou na Copa-2010 da África do Sul.

Acrescente-se a esses episódios outro pesadelo do futebol: a definição das cidades que abrigarão jogos dos torneios da modalidade na Olimpíada. Cartolas brasileiros defendem a inclusão de Manaus; os da Fifa discordam por achá-la distante do Rio.

São assuntos que se arrastam, já encheram a paciência. É ou não uma ressaca? Muita atividade para um pós-Carnaval, que, como se diz, é quando tudo começa a funcionar no Brasil. Quem acredita nisso? Sinceramente, eu não.


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