Folha de S. Paulo


Para trocar presidente, autoridade olímpica deve explicar os motivos

Ainda repercutem as especulações sobre uma possível troca de comando na APO (Autoridade Pública Olímpica), o consórcio criado para fiscalizar e trabalhar em busca da harmonia entre União e os governos estadual e municipal do Rio de Janeiro, no envolvimento de todos eles nos preparativos para os Jogos Olímpicos.

O presidente da APO, general Fernando Azevedo e Silva, chegou a descartar qualquer chance da saída dele do cargo, classificando tais informações como especulação. Em janeiro era mesmo impossível, pois, para ter seu nome ratificado, o novo indicado ao posto precisaria passar por sabatina no Senado, que estava em recesso. Com o retorno dos senadores às atividades, a situação muda de figura.

Desde que Azevedo e Silva assumiu a APO em outubro de 2013, após pedido de demissão de Márcio Fortes –o órgão estava esvaziado, praticamente inoperante–, os trabalhos tomaram um novo rumo. A fama de inflexível no trato com dinheiro público foi realçada pela mídia quando da indicação do general para o cargo.

Na semana passada, a APO apresentou uma atualização da Matriz de Responsabilidade da Olimpíada, documento com os projetos essenciais para os Jogos. Mostrou um aumento de R$ 100 milhões nos gastos. O custo das arenas olímpicas e seus entornos passou para R$ 6,6 bilhões. Incluindo investimentos em infraestrutura e legado, por enquanto, o valor total dos Jogos sobe para R$ 37,7 milhões, mas deve aumentar quando o projeto olímpico estiver completo.

As notícias sobre a troca de comando na APO surgiram abruptamente, pois não há nenhum desacerto ou denúncia em curso que comprometa o projeto olímpico. É certo que as trocas de cadeiras em Brasília e nos Estados, após as últimas eleições, desencadearam acordos políticos, barganhas, acomodações diversas, estapafúrdias.

A escolha pela presidente Dilma Rousseff do novo ministro do Esporte, o político e pastor religioso George Hilton, dá uma ideia dos bastidores da política federal. Incrível a sinceridade da criatura empossada. Disse que não entendia de esporte, mas era conhecedor de gente.

Para amenizar o impacto negativo de sua indicação, vem recorrendo à contratação e à aproximação a agentes com vivência nos meios esportivos. O método parece funcionar, uma vez que as críticas desapareceram totalmente. Será duradoura essa paz?

Neste momento nebuloso da política, o nome mais especulado como provável futuro comandante da APO é o do petista Edinho Silva, ex-deputado estadual (PT-SP), ex-prefeito de Araraquara e tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma Rousseff.

Na semana passada, ao lado do ministro Hilton, ele participou de reuniões sobre questões envolvendo clubes de futebol, noticiou o Painel FC da Folha de S.Paulo.

Entretanto, não consta que ele domine sem dificuldades assuntos relacionados aos Jogos Olímpicos. Em contrapartida, tem vivência com caixa de campanha eleitoral, experiência que pode ser aproveitada em atribuições importantes da APO como fiscalização e monitoramento de obras.

Os preparativos para os Jogos Olímpicos crescem com a aproximação do evento. As obras são responsabilidades da União e dos governos. Mas a prefeitura do Rio é quem parece comandar a banda, sempre figurando à frente das iniciativas, despontando como porta-voz do evento mais do que o próprio comitê Rio-2016, o organizador, e os governos federal e estadual.

Por que mexer com a APO, faltando tão pouco tempo para os Jogos? Ou são apenas especulações de uma nova etapa da política? Sem explicações convincentes, não parece ser uma atitude inteligente nem de boas intenções.


Endereço da página: