Folha de S. Paulo


Parceria vôlei-BB, um exemplo em xeque

O Banco do Brasil suspendeu o contrato de patrocínio que mantinha com a Confederação Brasileira de Vôlei havia 23 anos, após relatório da Controladoria-Geral da União comprovar irregularidades na gestão do dinheiro público. O BB paga anualmente à CBV R$ 70 milhões, segundo apuração da Folha.

O vôlei sempre esteve na berlinda nas últimas duas décadas e meia, apontado como o exemplo a ser seguido para os demais esportes olímpicos. Acumulou na especialidade méritos indiscutíveis, arregimentando profissionais competentes dentro e fora das quadras e atingindo um saldo de 20 medalhas olímpicas.

Mas sucesso tem preço. E o Banco do Brasil foi o principal respaldo da CBV, a entidade responsável pelas seleções brasileiras. Na verdade, no mercado esportivo, exceto no futebol, não despontou por aqui patrocinador tão generoso. Nenhum dos outros esportes teve algo parecido. Os dirigentes do vôlei souberam captar e manter a milionária aliança com o banco.

A medida tomada agora pelo BB foi acertada, sem dúvida. Entretanto, é bom deixar claro que as irregularidades só vieram à tona não por uma atitude do banco, o provedor da parceria, mas sim pela coragem e empenho do jornalista Lúcio de Castro, da ESPN Brasil, que levantou a trama e contou com o respaldo daquela empresa para divulgá-la.

Essa situação embaraçosa do vôlei coloca o BB entre a caça e a espingarda do caçador nesta etapa da crise. Por que o banco não providenciou uma fiscalização adequada sobre os caminhos percorridos pelas verbas que saiam dos seus cofres? Omissão, desleixo ou o quê? Afinal, patrocínio dessa natureza e porte tem objetivos e responsabilidades das partes envolvidas.

Difícil é encontrar quem possa discordar da decisão tomada pelo banco neste momento. Seria mais ou menos como achar uma agulha num palheiro. Parece impossível, mas tem quem não concorde com os desdobramentos desse vexame bancário-esportivo.

O ex-presidente da CBV Ary Graça, que teria pago despesa de festa para cartolas estrangeiros em praia brasileira de veraneio com dinheiro da entidade e foi eleito pelos mesmos convidados para o comando da Federação Internacional de Vôlei, é um tipo dessa agulha de palheiro. Ele discorda, pudera, pois os contratos sob investigação foram firmados na sua gestão à frente da CBV.

A entidade tem a obrigação da transparência total, da abertura de toda a sua documentação e dados para que sejam examinados pelas autoridades.

Felizmente não faltam pressões para que a apuração dos fatos caminhe nesse sentido, inclusive com manifestações de jogadores e técnicos da própria modalidade.

Pelo teor dos documentos já divulgados, o comportamento da CBV na parceria foi pavoroso. Daí a revolta e indignação dos atletas, manifestadas em entrevistas e com o uso de nariz de palhaço antes de jogos.

Recentemente, o BB navegou em outra onda de controvérsias, a do caso do mensalão, com o envolvimento de Henrique Pizzolato, seu ex-diretor de marketing, que foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão, e ao pagamento de multa.

Pizzolato fugiu para a Itália, onde acabou preso e depois liberado, sem que o Brasil conseguisse a sua extradição, pois ele é também cidadão italiano.

Há na sociedade um sentimento difuso de caça às bruxas, estimulado pelos escândalos do mensalão e da Petrobras. Dessa forma, com as revelações das irregularidades na parceria BB-CBV, restou ao banco pegar carona nas reportagens e nos relatórios da CGU para cuidar dos seus interesses.

Supostamente como um capitão que, alertado, salta da cama e sobe à torre de comando do navio para corrigir a rota, o banco se mexeu. Situação preferível à do célebre caso do Titanic, sem alertas em tempo hábil, uma catástrofe. Apesar da lentidão, por ora cabe um voto de confiança na atitude do BB. A conferir.


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