Folha de S. Paulo


Ousado, pacotão do COI busca modernização

O bom-senso prevaleceu na assembléia extraordinária do Comitê Olímpico Internacional, em Mônaco. Em vez de discussões tergiversantes, ousadas e inéditas sugestões acabaram acatadas por unanimidade pela centena de membros do órgão.

Um dos destaques da parte já aprovada do pacote olímpico –o encontro tem mais um dia de debates e decisões–, é o que libera a realização de uma mesma Olimpíada em mais de uma cidade, mesmo que elas sejam de países diferentes. Parece pouco, mas não é.

A partir das novas decisões, crescem as oportunidades para redução do custo dos Jogos, fato que permitirá atender ao anseio de mais cidades de abraçarem a organização do evento. Além disso, o COI vai reduzir os pré-requisitos.

Dessa forma, cidades que não teriam chance de abrigar o mega-evento passam a alimentar esperanças de compartilhá-lo, responsabilizando-se por algum dos esportes da competição poliesportiva. A partir de agora (na verdade as novas regras entram em vigor para os Jogos de 2024), bastarão à cidade interessada vontade e disposição para negociar uma fatia do grande evento.

Entre países vizinhos, esse tipo de intercâmbio pode engrandecer a organização de uma Olimpíada e amenizar os gastos da sede principal. Qual a cidade de país com tradição em algum esporte que não aceitaria o desafio de promover a sua paixão esportiva olimpicamente? O COI passa a ser mais flexível para aceitar cidades com estruturas já montadas, dispensando construções novas.

Parcerias desse tipo são vantajosas para todas a partes envolvidas. A cidade-sede vai gastar menos com os Jogos, onerosos na atualidade, com os 28 esportes sendo disputados num mesmo centro.

Quando o Rio ganhou a disputa para promover a Olimpíada-2016, imagine se a candidatura tivesse o direito de incluir no seu dossiê propostas de realizar alguns eventos em São Paulo ou Belo Horizonte ou até Buenos Aires ou Montevidéu? Certamente o governo brasileiro não estaria preocupado, como está hoje, com a estimativa orçamentária de cerca de R$ 38 bilhões, calculada para os Jogos concentrados exclusivamente no Rio de Janeiro.

Outra novidade é a autonomia que o COI passa a ter para convidar cidades a apresentarem suas candidaturas. Até agora, a iniciativa era exclusivamente de cada uma delas. O que isso muda? Na prática serve de estímulo para ampliar o número de candidatas. O convite do COI é um forte indicador de que a cidade tem potencial.

Esse inédito recurso atinge outro alvo ao servir como um obstáculo a mais para possíveis candidaturas aventureiras, repletas de gastança imoral e criminosa. É comum cidades com outras prioridades engatilhadas ou em condições econômicas inadequadas lançarem candidatura por manobras e intenções obscuras da cartolagem e de políticos.

Nos últimos tempos, por temor de gastos extravagantes, populações pressionaram governos para que desistissem de concorrer à sede dos Jogos. O saldo foi um baque para o COI, que espera por uma reviravolta nessa crise. A entidade até decidiu que assumirá gastos com inspeções de seus delegados nas cidades-candidatas.

Ficou decidido ainda que o contrato entre o COI e a cidade-sede será divulgado, tornando mais transparente e seguro o processo dos preparativos para o evento, como o controle das obras e dos gastos.

Também serão reveladas as contribuições do COI à organização dos Jogos. E outra novidade é que a cidade-sede passa a ter o direito de escolha de um ou mais esportes para o programa da sua edição olímpica.

Apenas aprovar nova legislação, no entanto, não basta. Para vingar, essa nova realidade vai exigir empenho e transparência permanentes da cartolagem, tanto do lado do COI como dos comitês olímpicos nacionais e dos comitês organizadores dos eventos.

Será isso possível? Enfim, o pacote olímpico ora em evidência acena com um passo à frente, sinal da possibilidade de novos tempos para o movimento olímpico internacional.


Endereço da página: