Folha de S. Paulo


Obras e medalhas, desafios olímpicos

O esporte olímpico do Brasil está passando as trancas na temporada 2014 sem criar novas expectativas sobre as possibilidades da campanha da delegação nacional nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Nenhum brilho chegou a ser tão espetacular a ponto de acrescentar chances de uma escalada fenomenal no quadro de medalhas. Candidatos nativos ao pódio, já conhecidos, ratificaram esse potencial, e continuam figurando entre os destaques mundiais.

A formação de um atleta de alto rendimento, em qualquer esporte, exige tempo, muito tempo, planejamento adequado e investimento, sendo algumas modalidades mais exigentes do que outras. Há exceções, principalmente nas competições individuais, mas elas são raras. Nas disputas coletivas, "uma andorinha só não faz verão", reza a sabedoria popular.

Quando desponta um talento, um craque, não importa o gênero, é praxe ouvir nos bastidores a expressão "diamante bruto que precisa ser lapidado". Mas esse é apenas o começo do enredo, que ainda terá meio até atingir o fim, a consagração. Isso no caso de dar tudo certo. O risco do investimento resultar em fracasso também é grande, pois o sucesso depende de respostas e reações do próprio atleta.

Na última Olimpíada, em Londres-12, a performance da representação brasileira acabou ilustrada pelo sucesso e ineditismo das medalhas de ouro na ginástica masculina, com o paulista Arthur Zanetti (na argola), e de bronze da pernambucana Yane Marques no pentatlo moderno, pouco praticado e quase desconhecido no país. Teve ainda o desempenho do boxe, com uma prata e dois bronzes (a única medalha anterior, bronze, havia sido ganha no México-68).

Na temporada passada, o inédito título mundial conquistado pela seleção feminina de handebol abriu a porta da esperança para a sonhada escalada no quadro de medalhas. Foi um balde de incentivo às federações esportivas nacionais, ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Ministério do Esporte, que insiste em palpitar de forma otimista sobre qual deve ser o desempenho da delegação nacional num evento de tal porte no país.

Provavelmente essa postura seja uma contrapartida, fruto de pressão provocada pela liberação de verbas aos esportes pelo governo federal. Gasta-se muito no setor, por quê? Uma campanha exitosa no campo esportivo, como já visto em Copas passadas (passe uma borracha, ou melhor, um pneu de trator na recente, no Brasil) gera alegria contagiante na população e suaviza ondas de insatisfação. Um desempenho fraco, ao contrário, aborrece, acirra ânimos. Qual o retorno do evento para o país? E para o governo?

O investimento na área esportiva de alto rendimento no Brasil tem sido bem executado, sem risco de abrigar nos bastidores fantasmas como os da Petrobras? "A Operação Lava Jato ameaça 73% das obras da Olimpíada" foi o título de reportagem no UOL, de autoria de Vinicius Konchinski e Vinícius Segalla, na última sexta-feira. O texto revela que, dos R$ 37,6 bilhões previstos no orçamento oficial dos Jogos, R$ 27,4 bilhões foram destinados a obras tocadas por empresas investigadas na operação –Odebrecht, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão e uma subsidiária da Camargo Correa, a CCR.

O COB quer ficar entre os dez primeiros no quadro total de medalhas. Em Londres, o Brasil somou17 –três de ouro, cinco de prata e nove de bronze– e ocupou a 15a. colocação. Já pelo critério tradicional, que leva em conta as medalhas de ouro, os brasileiro ficaram em 22.o lugar.

A entidade ainda não fechou o seu levantamento de medalhas conquistadas por atletas e seleções nacionais na temporada atual, em mundiais ou competições equivalentes, mas adianta que irá comparar os anos pós-olímpicos correspondentes, ou seja, 2009 com 2013; 2010 com 2014. Faltando ainda consolidar alguns rankings mundiais, como do boxe masculino e da natação, entre outros, até o momento o placar está 2014/17 medalhas e 2010/11.

Neste ano, seis atletas de cinco modalidades –entre eles, Robert Scheidt, na vela, Rodrigo Bastos, no tiro esportivo, e Rafaela Silva, no judô– ficaram do quarto ao oitavo lugares em Mundiais. Situação semelhante ocorreu com oito equipes ou revezamentos, exemplos do atletismo, basquete, ginástica artística e hipismo. Registro também para um leve crescimento de duas modalidades, lutas associadas e tiro com arco, com bons resultados em eventos internacionais.

As atenções estiveram voltadas para o julgamento do mensalão, Copa do Mundo, eleições e, agora, Operação Lava Jato. As cortinas da reta final para a Olimpíada se abrem no ano que vem, com preparativos das equipes e finalização de várias obras. É uma situação delicada, repleta de ingredientes para dar confusão.


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