Folha de S. Paulo


Candidatos esquecem Olimpíada, e gastança

Como apenas dois candidatos continuam na disputa presidencial –a petista Dilma Rousseff, tentando a reeleição, e o tucano Aécio Neves–, eles talvez possam finalmente abordar nos debates, mesmo que rapidamente, um dos desafios já postos para o governo federal que se inicia em janeiro próximo: a Olimpíada do Rio, em 2016.

A estimativa orçamentária do evento anda beirando os R$ 38 bilhões, e a quase totalidade desse valor vai sair do bolso do contribuinte. O governo assumiu compromisso com a comunidade internacional de realizar os Jogos, providencia os cenários e prepara a festa. Parece trivial, certo? Em parte, sim. Só que vai ter de pagar a conta, caríssima. E a escassez de tempo até a abertura dos Jogos certamente vai acarretar elevação abusiva dos custos.

A presidência tem muitos assuntos relevantes para tratar, mas uma conta desse porte também deve figurar no rol de registros importantes, ainda mais com gastos exorbitantes a serem realizados em tão curto espaço de tempo. A questão é que as eleições estão aí e ninguém toca no assunto.

A sensação é a de que o país não tem nenhum compromisso com os Jogos, como se Olimpíada fosse problema lá de fora, do exterior. Apesar disso, sequer é lembrado o exemplo da Grécia, país que promoveu os Jogos em 2004 e, a seguir, entrou numa recessão econômica gravíssima, praticamente sem luz no fim do túnel.

Por aqui, até o anúncio recente do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, de que deixará o Ministério do Esporte mesmo que a atual presidente seja reeleita, não despertou quaisquer comentários. Nos bastidores da política, a fala do ministro teria sido apenas uma artimanha para provocar apoio da presidente para que ele permaneça no cargo e tenha função relevante na organização olímpica.

Aliás, Rebelo, ex-deputado federal pelo PC do B, manifestou desejo de tentar a reeleição, mas Dilma pediu que ele continuasse a serviço do governo pelas necessidades da Copa e da Olimpíada. Na Copa, o governo lhe incumbiu de um papel de realce, conforme o prometido, mas depois perdeu espaço.

Coube ao PC do B, nos 11 anos do ministério do Esporte, o comando da pasta com Agnelo Queiroz, Orlando Silva e Aldo Rebelo. Silva, que acaba de conquistar uma cadeira na Câmara Federal e retorna à Brasília, teve atuação destacada à frente do ministério, mas acabou afastado do posto após denúncias de suspeitas de irregularidades com verbas de programa do governo federal destinado a promover o esporte em comunidades carentes.

Caso Rebelo deixe o cargo, o PC do B, teria outros nomes da área dos esportes para colocar em discussão, a começar pelo atual secretário do próprio ministério, Ricardo Leyser, um especialista no assunto.

Outro destaque do partido, que deve entrar na especulação, é o da atual vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, engenheira e política experiente, que dirigiu a Secretaria de Esportes durante a gestão Marta Suplicy na prefeitura.

O candidato Aécio Neves, por sua vez, caso vença a eleição, tem carta na manga para o Ministério do Esporte. A principal delas é a do atual técnico da seleção masculina de vôlei, Bernardinho. O nome dele despontou no ano passado vinculado a uma especulação sobre candidatura do PSDB ao governo do Rio, o que acabou não acontecendo. Mas levantou poeira, como jogar um balde de talco no ventilador.

A ex-estrela da seleção de vôlei Fernanda Venturini, mulher do treinador, chegou a declarar que o marido não pensava entrar na política por ser uma pessoa idônea e não poder se juntar aos corruptos. Bernardinho não se manifestou e o episódio caiu no esquecimento.

Mesmo atuando como técnico da seleção, vice na última Olimpíada e no recente Mundial, Bernardinho voltou ao noticiário como sendo um dos articuladores das denúncias de maracutaias nos contratos de patrocínio entre a Confederação Brasileira de Vôlei e o Banco do Brasil. Os acordos contemplavam escandalosas comissões para intermediários.

No tocante aos Jogos Olímpicos, o candidato do PSDB conta com uma especialista, a executiva Maria Silvia Bastos Marques, que chefiou a Empresa Olímpica Municipal de 2011 até março último. O ocupante do cargo é considerado mais ou menos como o "prefeito olímpico". Ao se demitir, ela não apresentou motivos, mas seu destino era sabido: atuar na campanha de Aécio.

Nesta terça-feira tem mais um desses insossos debates televisivos, que, cheios de regras e limitações, costumam ficar bem distantes de propiciar esclarecimentos ao cidadão sobre as propostas dos futuros governantes. Talvez um deles lembre que no Brasil vai ter Olimpíada e muita gastança.


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