Folha de S. Paulo


O futebol olímpico e os desafios ao torcedor

A Copa do Mundo de futebol ficou para trás e ninguém mais toca no assunto por aqui. O vexame da seleção brasileira irritou os torcedores, que alimentaram expectativas positivas com o time do Felipão. Pois bem, o futebol sempre abre cortinas para novos sonhos, ou apenas ilusões, como ficou evidente com o engodo da seleção na Copa.

O desafio da vez são os torneios masculino e feminino dos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto de 2016. Diferentes da Copa, conquistada pela seleção em cinco oportunidades, nas Olimpíadas as equipes brasileiras jamais chegaram ao título, nunca desfrutaram o prazer de uma medalha de ouro. Na verdade, é o único troféu ausente no capítulo de sucessos da história do futebol brasileiro.

As seleções chegaram bem perto, ganhando prata, a masculina em três oportunidades e a feminina, em duas. Em nenhuma das vezes, no entanto, havia algo marcante como o fato de jogarem em casa, com clima favorável e diante dos seus torcedores, diferencial que terão nesta Olimpíada.

Os preparativos seguem a todo vapor, uma vez que as vagas das duas equipes estão asseguradas pela condição de anfitriãs. A feminina, sob o comando do técnico Vadão, acaba de conquistar a Copa América, no Equador, e vai passar por um grande teste no ano que vem nas disputas do Mundial do Canadá.

O time masculino, dirigido por Alexandre Gallo, traçou seu planejamento ao longo das temporadas em paralelo com etapas de preparativos da seleção principal, a privilegiada nas convocações quando coincidir o interesse por um jogador.

No momento, a seleção olímpica trabalha com atletas de até 21 anos porque o regulamento dos Jogos estabelece o teto de 23 anos, com apenas três jogadores podendo ultrapassar esse limite. Gallo já adiantou que um deles será Neymar.

A questão é que, quanto mais os Jogos se aproximam, mais idade terão os candidatos à convocação, consequentemente, mais experiência e mais chance de promoções nos seus clubes. Portanto, nesse cenário, recorrer ao bom-senso será decisivo para que a seleção olímpica não tenha sua preparação prejudicada na reta final, perdendo jogadores para a principal.

Numa situação considerada normal, esperar pelo bom-senso de instâncias da CBF é algo que, no mínimo, exige paciência e controle emocional dos torcedores das seleções. Para atirar mais lenha nessa fogueira, a Associação Européia de Clubes, presidida pelo alemão Karl Heinz Rummenigge, anunciou recentemente ao jornal O Estado de S.Paulo que não tem obrigação de liberar jogadores para partidas internacionais. Até mesmo para atuarem nos Jogos Olímpicos.

Na Copa, 76% dos jogadores eram empregados de clubes europeus, apontou a associação, destacando que a Copa América (em 2015 nos EUA) e a Olimpíada são os principais entraves, já que ambos desfalcariam os clubes por tempo considerado excessivo e poderiam causar lesões.

O futebol olímpico tem outros entraves pela frente. As disputas, inicialmente previstas para cinco praças (Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Salvador), podem ganhar uma sexta cidade-sede em consequência da indefinição sobre utilização ou não do Engenhão, no Rio. Além disso, abriu-se a possibilidade de mais de um estádio abrigar jogos em São Paulo. Candidatos: Arena Corinthians (preferência da Fifa), Parque Antarctica e Morumbi.

Essa cascata de dúvidas gera outras indefinições, como o valor da meia-entrada nessas sub-sedes, por causa de legislações locais, embora os preços dos ingressos sejam conhecidos. No masculino será de R$ 50 (o mais barato na fase preliminar) a R$ 900 (o mais caro na final) e feminino, de R$ 40 a R$ 580.

Em todas essas questões, a Fifa e o comitê organizador dos Jogos parecem pouco preocupados com os torcedores. Não basta a apreensão com a preparação adequada das duas seleções. Ainda sobram esses tipos de aborrecimentos para os interessados em acompanhar os torneios olímpicos das arquibancadas.


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