Folha de S. Paulo


Rio arruma casa para visita do COI

Ainda sob um clima de apreensão, embora com menor grau de tensão do que nas vezes anteriores, o Rio de Janeiro corre contra o tempo para colocar a casa em ordem uma semana antes da nova inspeção da Comissão de Coordenação dos Jogos Olímpicos de 2016.

Certamente não é um trabalho tranquilo. Como explicar o risco de possível paralisação das obras do campo de golfe, na Barra da Tijuca, por causa de supostos danos ambientais? Na semana passada fracassou tentativa de acordo entre o Ministério Público-RJ, a prefeitura carioca e a Fiori Empreendimentos, responsável pela construção das instalações do golfe. A prefeitura ficou com a tarefa de encontrar um desfecho para o impasse.

Ainda no setor ambiental, é quase impossível sair da pauta pedido de explicações sobre o andamento dos trabalhos para redução dos níveis de poluição das águas da baía de Guanabara. Promessa de difícil solução, conta com atenuante de ali ter sido realizado há cerca de um mês evento-teste das disputas olímpicas de vela.

Na última visita da Comissão de Coordenação, liderada pela marroquina Nawal El Moutawakel, seis meses atrás, havia muita polêmica sobre os preparativos e falhas a serem corrigidas, resultado de avaliações das federações internacionais de vários dos 28 esportes do programa dos Jogos.

Motivos não faltavam. Até mesmo a estimativa de custos do evento continuava incerta. Sob pressão saiu um número, que hoje gira em torno de R$ 38 bilhões.
Implacáveis, algumas federações, entre outros pitacos, apontavam atrasos e desacertos nos cronogramas e projetos das obras olímpicas, cada qual tentando puxar o peixe para a sua rede.

A onda forte de críticas criou um ambiente propício para que o Comitê Olímpico Internacional nomeasse uma espécie de monitor junto ao comitê organizador brasileiro. O escolhido acabou sendo o seu então diretor-executivo dos Jogos Olímpicos, Gilbert Felli. A impressão foi de uma encenação para pressionar os governos brasileiros –federal, estadual e municipal–, que vinham atuando a passos de tartaruga no processo da Olimpíada.

Durante a Copa do Mundo, o alemão Tomas Bach, presidente do COI, veio ao Brasil e visitou a presidente Dilma Rousseff, em Brasília. Superada a fase sensível da crise, Felli foi substituído por Christophe Dubi no cargo que ocupava no COI havia 11 anos, mas segue na Comissão de Coordenação, agora como consultor.

Será a sétima inspeção desde que o Rio reivindicou e ganhou em 2009 o direito de organizar os Jogos daqui a dois anos. Nos últimos meses, o COI mudou a postura que vinha adotando no primeiro trimestre deste ano.
Agora elogia os preparativos, e o presidente Bach chegou a destacar o êxito da Copa do Mundo de futebol disputada no país.

Manifestações da cartolagem quase nunca brotam de um simples ato de espontaneidade. Costumam camuflar defesa de interesses. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, assinaram carta de garantia, respaldando decisões do COI, como a recente liberação de US$ 1,5 bilhão para a organização da Olimpíada.

Um direito do Rio, sendo parte do adiantamento do contrato de TV pelos direitos de imagem dos Jogos, e parte de contribuição direta para o evento. Essa verba garante o andamento das obras neste segundo semestre.

Coincidentemente, neste período ocorrem eleições no Brasil sem que a Olimpíada levante poeira, mesmo agora quando as líderes na disputa presidencial, Dilma Rousseff e Marina Silva, debatem a importância da existência de um ministério exclusivo para a área de esportes.

A partir do ano que vem, já na reta final para os Jogos, os governos terão de enfiar fundo a mão no bolso para honrar os compromissos olímpicos. Um gesto que deve se alongar no tempo, pelo alto valor das contas. Lamentável é o bolso ser o do contribuinte.


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