Folha de S. Paulo


Campo de golfe, novela olímpica

A construção do campo de golfe da Olimpíada-2016 virou novela e tem novo capítulo. O Ministério Público estadual pediu a anulação da licença ambiental que permitiu a realização das obras na Barra da Tijuca. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse recentemente que estava tranquilo e seguro que os trabalhos caminhariam sem problemas. Mas parece não ser bem assim, como fica claro diante do novo impasse.

Paes está voltando da China, onde foi acalmar dirigentes das federações esportivas internacionais que fizeram comentários negativos e manifestaram preocupação com o andamento dos preparativos para os Jogos. A oportunidade encontrada por ele para responder às críticas foi a reunião das federações por conta dos Jogos da Juventude, em Nanquim.

A polêmica em relação ao campo de golfe começou com uma disputa judicial sobre o direito de posse do terreno, que provocou atraso no início das obras. Depois se destacaram as questões ecológicas, embora a Câmara dos Vereadores tenha aprovado a construção do campo mesmo em uma Área de Proteção Ambiental (APA) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente liberado a licença. Foi necessário, no entanto, desapropriar parte de uma gleba com vegetação de Mata Atlântica do Parque de Marapendi. A iniciativa privada bancou a construção do campo, em contrapartida recebeu benefícios urbanísticos.

O comitê organizador dos Jogos anunciou já ter iniciado o plantio de grama em cinco dos 18 buracos que formam o circuito, enquanto os sistemas de irrigação estão instalados em mais de dois terços do campo. Faltam ainda os prédios de manutenção e da sede social. A instalação, que se tornará o primeiro campo de golfe público da cidade, começou a ser construída em abril de 2013 e tem entrega prevista para setembro do ano que vem.

A organização da Olimpíada no Brasil não tem poupado esforços para contemplar o evento com novas praças de esporte, sempre alegando que os Jogos deixarão um legado para a população. O golfe é um exemplo dessa proposta. Adaptações em um dos dois principais clubes da modalidade no Rio –Itanhangá e Gavea Golf– foram descartadas, optando-se pela construção de um novo campo, mesmo diante do risco de entraves jurídicos e ecológicos.

Essa política gera arrepios quando confrontada com saldos de Jogos passados. No último dia 13, o diário londrino "The Guardian" escancarou, no décimo aniversário da Olimpíada de Atenas-2004, uma galeria de 18 fotos das obras construídas para aquele evento, que teve um custo estimado de 9 bilhões de euros. Uma tristeza.

Uma década depois do espetáculo esportivo na Grécia, segundo o jornal, muitos de seus outrora reluzentes locais olímpicos jazem abandonados. Para muitos gregos, que se encheram de orgulho na época, os Jogos são agora uma fonte de raiva enquanto o país luta contra uma crise econômica há seis anos, desemprego recorde, falta de moradia, e pobreza, com muitos questionamentos.


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