Folha de S. Paulo


A meia verdade da conta olímpica

Mesmo sendo apenas uma estimativa, já é tempo de os brasileiros ficarem sabendo, de fato, quanto os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, vão custar.

Os três níveis de governo –federal, estadual e municipal– e o comitê Rio 2016 trabalham para fechar a conta com a conclusão do plano de organização do evento, apontando responsabilidades e quem vai pagar o quê.

A comissão do Comitê Olímpico Internacional responsável pela inspeção das obras, cumprimentos de prazos e pelo andamento dos preparativos gerais de organização dos Jogos esteve no Rio, na semana passada. Ela pouco relatou sobre o que viu e discutiu, mas deixou claro que o mais importante, por ora, é superar a indefinição do plano geral de obras e das responsabilidades.

Por isso, integrantes da comissão avaliaram como "crucial" a próxima reunião dos organizadores brasileiros, sem a participação do COI. Não há tempo a perder –faltam 863 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos–, e decisões precisam ser tomadas imediatamente, para evitar atrasos, e com eles aumentos sem razão nos custos.

Para se ter uma ideia da situação, em janeiro passado, quatro anos e três meses depois de a cidade ter sido escolhida como sede do evento, dos 52 projetos listados, apenas 24 tinham orçamento definido.

As obras com custo divulgado somavam R$ 5,6 bilhões. No dossiê da candidatura, em 2009, a estimativa total de gastos –dos Jogos propriamente ditos e de infraestrutura– era de cerca de R$ 28 bilhões.

Além das barreiras de prazo, para piorar, os planos ainda correm risco de sofrer alterações. A prefeitura do Rio, por exemplo, estuda a possibilidade de mudar da zona portuária da cidade para Jacarepaguá o local da vila que abrigará mídia e árbitros. Não é pouco. Ela foi projetada para 3.034 quartos, dos quais 2.800 seriam utilizados na Olimpíada.

É a hora da verdade olímpica, ou melhor, da meia verdade, pois somente após a conclusão das disputas em 2016 da Olimpíada e dos Jogos Paraolímpicos é que se conhecerá, com segurança e precisão, o tamanho do rombo.

Apenas lá é que vai ficar claro se foi ou não um projeto megalomaníaco do governo brasileiro assumir tal compromisso, tese defendida por incontáveis contribuintes.

Então, haverá também respostas contundentes para a pergunta: valeu ou não a pena? Ou se a conquista do direito de realizar os Jogos, comemorada em vários pontos do país, não passou de uma boa iniciativa que acabou sendo mal executada?

O aguardado posicionamento dos responsáveis pela Olimpíada deve chegar em momento de tensão na área esportiva nacional. Tanto pelos atrasos em obras e gastos exagerados, sem pé nem cabeça, às vésperas da Copa do Mundo de futebol, como pelo escândalo envolvendo a confederação de vôlei e o Banco do Brasil.

A parceria CBV-BB, em contratos de patrocínio, resultou em denúncias de polpudas e repugnantes comissões para intermediários. São abusos nos dois badalados esportes nacionais na atualidade, que ninguém aguenta mais.


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