Folha de S. Paulo


O mistério olímpico

Restando apenas exatos mil dias até a abertura da Olimpíada do Rio, em 5 de agosto de 2016, o sinal de alerta está acionado para o comitê organizador. Como várias das obras ainda engatinham e algumas sequer foram iniciadas, a redução de tempo para a execução das mesmas vira um tormento para o comitê, um pesadelo no qual os monstros ficam mais pavorosos a cada pôr do sol.

Nesse quadro, ganha relevância a ausência da imprescindível e há tempos aguardada atualização orçamentária do projeto da organização dos Jogos. No dossiê da candidatura, a estimativa total dos gastos foi de cerca de R$ 28 bilhões, valor que deve ser corrigido por conta do andamento da economia do país e pelos ajustes ocorridos nos planos das obras.

O Complexo Esportivo de Deodoro, o segundo parque em importância da Olimpíada, por exemplo, deve ficar pronto nas vésperas da competição. Lá, ocorrerão disputas em sete instalações --quatro a serem construídas, e três, reformadas. As obras começam no ano que vem.

O comitê Rio-2016 tinha 2.499 dias para cumprir sua missão de organizar e preparar os Jogos Olímpicos e os Jogos Paraolímpicos, contados a partir de 2 de outubro de 2009, quando o Brasil venceu a disputa pelo direito de abrigar, em sequência, as duas competições. Naquele momento, sob a presidência de Lula, presente na solenidade realizada em Copenhague, o país assumiu obrigações com o Comitê Olímpico Internacional.

São eventos de prestígio, mas que acarretam contas salgadas. Portanto, todo movimento com tal vocação e relacionado à organização deve ser totalmente transparente.

O Tribunal de Contas da União apontou falhas no planejamento para os Jogos, condições que inviabilizavam as estimativas sobre custos dos projetos e identificação de seus responsáveis. Nas manifestações de junho, a Olimpíada já foi lembrada nos protestos. Os políticos quase nada tocam no assunto, talvez estejam esperando pela repercussão da Copa-14.

A presidente Dilma Rousseff, no entanto, foi exigida para intervir no mês passado, após ver a Autoridade Pública Olímpica, que coordena as ações de governo --federal, estadual e municipal-- em função dos Jogos, perder relevância. O consórcio ficou dois meses sem presidente, com o afastamento do ex-ministro Marcio Fortes, que se sentia desprestigiado no cargo. Dilma indicou para o posto o general Fernando Azevedo e Silva, homem de sua confiança no Exército.

A meta da APO é a integração dos governos no projeto olímpico e a elaboração da matriz de responsabilidade, documento que reúne obras, custos, prazos e responsáveis. Enfim, essa matriz é a referência para a estimativa dos gastos, a aguardada superação do mistério dos custos e como a conta vai ser paga. Por enquanto, só se sabe que a parte salgada sairá do bolso do contribuinte.


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