Folha de S. Paulo


Bonança e turbulência

Quanto a Olimpíada do Rio vai custar? Essa questão relevante segue sem resposta restando cerca de três anos para o início dos Jogos. Trata-se, na verdade, da atualização do valor estimado da previsão orçamentária para a realização do evento. É isso o que se espera do comitê organizador e das três esferas de governo --federal, estadual e municipal-- envolvidas no projeto.

Como grande parte da conta da festa olímpica deverá ser paga pelo governo federal, a presidente Dilma Rousseff decidiu não esperar para ver o que vai acontecer.

Indicou o general Fernando Azevedo e Silva para comandar a APO (Autoridade Pública Olímpica), resolvendo um impasse que persistia havia dois meses, desde que Márcio Fortes decidiu sair por causa de um esvaziamento na atuação do consórcio.

O general é homem de confiança da presidente no Exército e é visto como inflexível no trato com dinheiro público, segundo o colunista Juca Kfouri. Além disso, já estaria intervindo na organização dos Jogos há cerca de um ano. Ele preside a Comissão de Desporto Militar do Brasil.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, queria a extinção da APO e disse que contava com apoio do governador Sérgio Cabral. Para ele, os interesses da Olimpíada e da cidade se casavam e, por isso, o comando deveria ser da prefeitura. Na visão do político, a atuação da APO não prejudicava, mas também não ajudava.

A indicação do general mostra um caminho em outra direção, reforçando a vocação da APO, vinculada ao Ministério do Esporte e com a função de coordenar o andamento das obras, as ações públicas, simplificar trâmites burocráticos e tomadas de decisões.

Relatório do TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, cobrou providências do governo para a falta de planejamento para os Jogos, como a elaboração da matriz de responsabilidade, documento que reúne informações sobre obras, custos, prazos e responsáveis. Sem esses dados até a fiscalização se torna difícil.

Passados quatro anos desde que o Rio assumiu as responsabilidades de preparar e realizar a Olimpíada, os organizadores dos Jogos desfrutam dos derradeiros momentos de calmaria. A partir de agora, com obras em andamento e outras apenas no início, sem tempo a desperdiçar e com prazos para cumprir, o horizonte acena para possibilidades de turbulências e tensão.

Fortes, ex-ministro das Cidades, havia assumido a APO em 2011 e pretendia levar adiante uma revisão completa do plano de obras olímpicas para reduzir custos, mas acabou sem o respaldo pretendido nessa tentativa. Ele chegou a fazer alertas óbvios de que obra em cima da hora provoca gastos extras.

Talvez vislumbrasse grandes chances de isso vir a ocorrer e queria evitar. Esse é o tema que precisa de luz, de transparência ampla e irrestrita, porque vai mexer forte, sem piedade, no bolso do contribuinte.


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