Folha de S. Paulo


Lenha na fogueira

O Rio-2016, o comitê organizador da Olimpíada, está perto do confronto com uma situação delicada, aterrorizante, equivalente ao de bombeiros diante de um enorme incêndio, mas dispondo só de um caminhão-tanque cheio de gasolina em vez de água. Isto porque, o comitê ficou de anunciar neste mês o reajuste na previsão orçamentária para a organização dos Jogos.

O cenário, no momento, é complicado, nebuloso, considerando que os recursos carreados para os grandes eventos esportivos assumidos pelo Brasil --a Copa das Confederações, encerrada no último domingo, a Copa do Mundo no ano que vem e a Olimpíada dois anos depois-- foram alvos nos protestos durante as manifestações nas últimas semanas. Falar de gastos dessa natureza, é jogar lenha na fogueira.

O eco das manifestações no Brasil, em contrapartida, levantou discussão no movimento olímpico sobre a necessidade de rever os modelos dos seus grandes eventos, marcados pelo gigantismo.

Os cartolas evitam declarações, antes um dogma, de que cabe a um país gastar o que seja necessário na organização dos Jogos. Isso foi o que apontou reportagem de Jamil Chade, quinta-feira, no "O Estado de São Paulo", com avaliações de dirigentes do COI (Comitê Olímpico Internacional), em Genebra.

Por razões óbvias, e entendendo o recado, o COI havia se manifestado recentemente a favor dos movimentos desencadeados no Brasil, quando os brasileiros foram às ruas reivindicando melhorias na infraestrutura geral do país, com foco mais nas áreas de transporte, saúde e educação. E protestando contra os altíssimos investimentos nos eventos esportivos, principalmente nas Copas das Confederações e do Mundo de Futebol.

Na época da candidatura olímpica, em 2009, o Rio de Janeiro apresentou uma estimativa de orçamento de US$ 14,3 bilhões (R$ 32,31 bi), que é o valor a ser atualizado. De lá para cá, com a definição dos locais de competições dos Jogos no Rio, os planos sofreram alterações. Vale lembrar que são meras estimativas, e que o custo final costuma ser mais elevado. Vide o Pan-2007, também no Rio, que partiu de R$ 414 milhões e fechou em R$ 3,7 bilhões.

As sinalizações do COI, no momento, indicam que as exigências devem baixar, ficar mais elásticas, já para a Olimpíada-2020, que tem como postulantes Tóquio, Madri e Istambul. A escolha acontece em setembro próximo. No mesmo encontro, seis candidatos disputam os votos dos confrades para suceder o atual presidente do organismo, o belga Jacques Rogge.

O Brasil pode aproveitar esse momento para tentar equacionar suas dificuldades. É a chance de descartar obras onerosas em demasia, adaptando-as ou trocando-as por similares, menos custosas. Para isso é preciso muita ousadia, inteligência e, acima de tudo, coragem.


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