Folha de S. Paulo


Gigantismo olímpico

Por causa do crescimento desenfreado --esportivo, do número de participantes, passando pelo comercial, mídia, tecnologia etc., mas conveniente, nas últimas décadas-- os Jogos Olímpicos lutam contra o próprio êxito. Paradoxalmente, o sucesso do evento virou veneno, transformou a competição num fenômeno quase indomável.

Cresceu tanto que agora precisa de freio, a fim de que a cada quatro anos o país-sede tenha condições saudáveis para organizá-los, ao mesmo tempo em que o espetáculo possa atender aos apelos do mundo moderno. Busca novos rumos com a troca de esportes para que se enquadre nos moldes de interesses gerais da atualidade.

Audiência, popularidade, venda de ingressos, controle de doping e número de praticantes são requisitos importantes para que um esporte consiga ingressar no programa da Olimpíada. Também pesa o empenho dos dirigentes na defesa da sua modalidade, muitas atraentes por movimentarem muito dinheiro.

Por todas essas questões, em pleno Carnaval, repercutiu na comunidade esportiva mundial a surpreendente decisão do Comitê-Executivo do Comitê Olímpico Internacional de indicar a luta olímpica para ser substituída nos Jogos de 2020 por outro esporte como uma das 26 modalidades permanentes da Olimpíada.

Os esportistas da área, naturalmente, protestaram, e prometem intensas manifestações contra a medida, que necessita de ratificação em encontro do COI previsto para setembro, na Argentina. Afinal, a Federação Internacional de Lutas Associadas, organizadora da modalidade, conta com 180 filiados.

Para apimentar o debate, argumentos convencionais não faltam, pois a luta fez parte dos Jogos Olímpicos da Antiguidade e nas Olimpíadas da Era Moderna, iniciadas em 1896, até hoje, só ficou fora uma vez.

Além disso, é o terceiro esporte a distribuir mais medalhas (72) em cada edição dos Jogos, superado apenas pelo atletismo (141) e pela natação (102).

A exclusão da luta olímpica do programa de 2020, no entanto, pode ser revertida. A modalidade tem de ser escolhida para a única vaga disponível, e para a qual também concorrem caratê, squash, patinação, escalada, wakeboard e wushu (tipo de arte marcial), mais beisebol e softbal, que, juntos, tentam retornar à Olimpíada.

Em 2016, no Rio de Janeiro, o evento terá 28 esportes, incluída a luta, mais golfe e rúgbi, novidades. EUA e Rússia são destaques na luta olímpica, que desfruta de prestígio em países como Japão, Irã e Uzbequistão, entre outros.

O Brasil engatinha, mas ensaia os primeiros passos para avançar no setor --inaugurou um centro de treinamento. Agora, com a modalidade na corda bamba, no fogo cruzado entre tradição e progresso, o plano corre o risco de virar apenas uma proposta de "boas intenções".


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