Folha de S. Paulo


Sob velha direção

O Comitê Olímpico Brasileiro abre o quinto mandato presidencial de Carlos Arthur Nuzman.

Até agora foram 17 anos de comando, impulsionados por generosas verbas do governo federal, embora sem brilho nas competições olímpicas. Iniciou com o recorde de 15 medalhas nos Jogos de Atlanta-96 e, 16 anos depois, ampliou para apenas 17, em Londres-12. Ou seja, duas medalhas a mais. Agora, rumo a duas décadas no poder, com a delegação do Brasil atuando em casa, na Rio-2016, promete o desempenho típico de anfitriões olímpicos, sempre mais positivos.

Após assumir o COB em julho de 1995, um ano antes de Atlanta, com toda a programação, preparação e participação nos Jogos definidas pela gestão anterior, Nuzman disse que a história já estava escrita e que não tinha tempo para mudá-la. Anunciou que o objetivo era colocar o Brasil no topo em até dois ciclos olímpicos. Ficou no discurso.

A dupla Nuzman-André Richer, chapa única no pleito da última sexta, recebeu 27 votos entre os 30 possíveis no plano das confederações esportivas nacionais. A Confederação dos Desportos no Gelo, oposicionista, que denunciou invasão de sua sede pelo COB, e até exibiu filmagem do ato, votou contra.

As confederações de vela e motor, com seu interventor em viagem, e a de futebol, a mais rica de todas, por isso independente, com sede no Rio, não enviaram representantes. A chapa contou ainda com três votos dos membros natos da entidade: o próprio Nuzman, o vice André Richer e o de João Havelange. Aí, então, a conta bateu nos 30 votos pró.

Assim, sem recorrer ao convencional "sob nova direção", o COB entra no seu mais importante ciclo olímpico, que finda na Rio-2016, contra a crescente corrente que pede a alternância de poder no esporte e contra as críticas pela dupla função exercida por Nuzman, também presidente do comitê organizador da Olimpíada no Rio.

Outro ponto que exige discussão, no momento, é o repasse de verba governamental para o esporte.

A principal função do COB é cuidar do alto rendimento. São 42 modalidades olímpicas. Desde 2001, quando entrou em vigor a Lei Piva, que remete para o esporte 2% da arrecadação das loterias do governo, o COB ampliou sua vocação, assumindo o repasse da polpuda verba às confederações, inclusive decidindo os valores. Ganhou poder. Várias das entidades dependem exclusivamente dessa ajuda.

Com novas atribuições, o COB implantou um modelo de gestão que exige mais investimento em burocracia. Evitar esse ônus seria um avanço para as confederações.

Foi o que fez a Petrobras, via Lei de Incentivo ao Esporte, com o boxe. Sem intermediação, investiu na modalidade que quebrou jejum de 44 anos ao ganhar três medalhas em Londres. Isso pode indicar um caminho para o esporte brasileiro.


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