Folha de S. Paulo


Sala de espera

Dia desses precisei fazer exames de rotina e me aconteceu uma coisa curiosa. Presentes da moderna medicina preventiva e da fortuna que pagamos aos nossos planos de saúde, os exames de rotina já fazem parte de nosso dia a dia.

Já que pagamos, vamos lá e usamos. Usamos para, se Deus quiser, não precisar usar. O medo faz parte do jogo e, mesmo com total ausência de sintomas, damos um jeito de encaixá-los na agenda.

Parei de adiar os meus e, para otimizar o tempo, agendei todos para o mesmo dia e lugar. Com medo de esperar entre um exame e outro, cheguei ao hospital munida de laptop, celular e uns textos pra ler.

Uma sala de espera não é mais uma simples sala de espera há muito tempo: são miniescritórios portáteis montados em cada cadeira.

Já abria o laptop, quando uma enfermeira apareceu e me levou a um vestiário. Entregou-me um desses roupõezinhos de doente pra vestir, abriu a porta de um armário e pediu que eu deixasse minhas coisas lá dentro.

Não acreditei.

Fiquei paralisada olhando para aquele armário onde eu trancaria todo o meu plano de aproveitamento de tempo daquela manhã.

"Vai demorar muito?" "Não muito, senhora." Fiquei com vergonha de pedir pra levar ao menos o celular e, obediente, tranquei minha vida lá dentro. Segui pelo corredor só de avental, pantufinha e chave na mão, atrás de minha boa enfermeira.

Ao término do primeiro exame, ela pediu que eu esperasse na sala. Fechou a porta e me deixou ali, sem laptop, sem celular, sem televisão e sem ninguém!

Só, sentada numa simples sala branca com alguns aparelhos. Fiquei um pouco angustiada, comecei a olhar em volta, li displicente um aviso na parede e, quando percebi, eu já jogava um joguinho comigo mesma fazendo uma lista mental de palavras possíveis com as letras de procedimento.

Parei.

Me controlei e consegui viver um momento precioso. Eu, mínima. Eu, essencial. Eu, colocada sem saída, diante da incrível, real e rara possibilidade de não fazer nada.


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